Dirigentes e parte da torcida do Guarani querem realmente a cura da instituição ou ficam contentes com paliativos?

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Crianças são acometidas de doenças. Não fui diferente. Quando tinha sete ou oito anos, minha falecida mãe buscava um profissional que soubesse solucionar uma asma crônica. Por dois ou três anos, fiquei sob os cuidados de um médico de um hospital infantil em Campinas.

Lembro do seu sorriso fácil, da predileção em contar piadas para descontrair o ambiente, a eloquência para explicar tudo para a família. Lembro que as consultas sempre terminavam com um tapinha nas costas de meu pai e “até a próxima”. Mas nada era resolvido. Pior: o quadro evoluía perigosamente até que chegou em um ponto que flertou com uma situação mais grave. Era hora de mudar.

Foi quando ao consultar o plano de saúde vinculado ao meu pai, que atuava em uma multinacional, deparamos com um nome: Antônio Emílio Da Rios Rugai. Consultório no Taquaral.

Lembro como hoje. Era 1987. De início, parecia que veríamos mais do mesmo. Baixinho, óculos achatado e e sempre com piada na ponta da língua. Viu que tinha um garoto de 14 anos pela frente e parecia disposto a falar sobre futebol. Impressão. De repente, o semblante ficou fechado. Examinou uma, duas, três vezes e voltou para a mesa. Pegou o prontuário, preencheu os pedidos de exames, receitou os remédios e vaticinou: “mãe, siga isto aqui, faça as inalações com esta prescrição e volte em duas semanas. O quadro é grave. Não dá para brincar”.

Encerrou a consulta. Voltei duas semanas depois. Novo exame. Mais pesquisa. Continuação da medicação, alternada com fisioterapia e aplicação de vacinas. Os resultados tímidos começam a florescer. O médico não escondia nada. Falava da dedicação, atenção, concentração para evitar uma recaída nas crises de asmas. Para resumir: após dois ou três anos, a evolução era notória. O médico 90% das vezes sisudo, cortante, sincero, mas eficiente, conseguia colher os frutos.

Você deve perguntar: o que este artigo tem a ver com futebol? Com o Guarani, tudo.

Parte dos dirigentes e sua torcida sabem que o clube tem uma moléstia grave. Está impregnada em todos os poros do clube. Quando esbanjava saúde e vitalidade, exibia capacidade para disputar campeonatos, revelar jogadores de ponta.

Agora está doente e, ao invés de pedir o conselho de alguém que encare a “doença” como manda o figurino, muitos integrantes da comunidade bugrina comportam-se como aquele paciente que frequenta um consultório de um médico relapso, incapaz de um diagnóstico preciso e que só continua ali porque os remédios paliativos não lhe dão satisfação. Então, é manutenção em Sério B aqui, participação em Série A-2 acolá e tratar para buscar cura definitiva que é bom nada. Roberto Graziano é encarado como o detentor do elixir milagroso capaz de proporcionar a cura definitiva. De uma hora para outra.

O médico durão não é consultado. Por que? Especialmente porque ele dirá a verdade, que o Guarani ainda está doente, não demonstra poder de reação, conta com estrutura sucateada e que não entende porque não se aplicou um receituário prático de cura.

Ou seja, gestão profissionalizada, melhoria do estádio e do Centro de Treinamento, revelação de atletas de alta qualidade para arrecadação de recursos no futuro. Só para isso acontecer é preciso cortar na carne, extirpar os males, admitir suas fraquezas. Priorizar a competência ao invés das medidas folclóricas. Dirigentes e parte da torcida não querem isso. Desejam apenas o remédio paliativo. Ou até um placebo. Contudo que não tirem eles da realidade paralela, já está de ótimo tamanho.

(análise de Elias Aredes Junior)