Especial: O que leva alguém a torcer pelo Guarani?

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O ano de 2017 terminou com a sensação de alivio e não de jubilo. O Guarani livrou-se do fantasma da terceirona nacional e ficou entre os 40 principais times do Brasil.

Um bálsamo de alegria em uma tormenta de infelicidade dos últimos anos: brigas políticas, rebaixamentos, bloqueio de verbas, estádio sucateado e insistência de viver uma realidade paralela, o que no fundo adia a reconstrução.

São ingredientes suficientes muito mais afeitos para ficar envergonhado do que orgulhoso em envergar a camisa do Alviverde pelas ruas de Campinas. O questionamento é inevitável: o que faz uma pessoa a defender com unhas e dentes a atitude de torcer pelo Guarani?

É uma postura para ser elogiada. Em um futebol calhado de gigantes no Brasil e no mundo, atrações e jogadores galácticos oferecidos pela mídia tradicional, à primeira vista, chega a ser um milagre uma criança ou adolescente nutrir amor pelo Campeão Brasileiro de 1978. Certo? Errado!

Torcer pelo Guarani é, antes de tudo, um ato de amor e resistência. Amor por um clube que nasceu a partir de sonhos de garotos em 1911 e que se espalhou por toda a Campinas.

Uma agremiação capaz de permanecer por 51 anos na primeira divisão do futebol paulista e viver um autêntico “milagre econômico” a partir de meados da década de 1960, quando sob a presidência de Jaime Silva verificou um crescimento do seu patrimônio. E que hoje transformou-se na boia de salvação para o seu renascimento.

Torcer pelo Guarani é, antes de tudo, defender um patrimônio do futebol brasileiro. Renato, Careca, Julio César, Amaral, Luizão, Amoroso, Jonas… Quantos craques saíram das fileiras do Brinco de Ouro e viabilizaram recursos e conquistas ao time bugrino? O torcedor sabe e não esquece.

Torcer pelo Guarani é alimentar a perspectiva de que o futebol brasileiro voltará a ter graça, talento, habilidade e técnica em abundância. Mais: que esse portfólio e patrimônio podem ser renovados e trazer ainda mais torcedores para as arquibancadas do estádio Brinco de Ouro.

O Guarani está longe de ser Beto Zini, Leonel Martins de Oliveira, José Luis Lourencetti, Marcelo Mingone, Álvaro Negrão, Horley Senna e Palmeron Mendes Filho. Nem a tonelada de cabeças de bagre que envergonharam o torcedor no Século 21.

O bugrino é, antes de tudo, um portador da esperança de que a camisa com duas estrelas no peito voltará a ser protagonista, a ambicionar a prateleira de cima.

O torcedor bugrino senta nas arquibancadas e arranja novos adeptos porque sabe que o caminho ao olimpo será encurtado se o coração de cada um transformar-se no décima segundo jogador. A luta é o combustível da alma. É nisso que acredita o torcedor bugrino.

(análise de Elias Aredes Junior)