Torcedores pontepretanos e bugrinos aparecem nas redes e invariavelmente reclamam do tom crítico das matérias do Só Dérbi. Querem matérias doces, entretenimento puro. Ou seja, querem e gostam de serem pequenos. Contentam-se com farelo. Ignoram o potencial aberto pela própria cidade em que residem para que os clubes locais sejam diferentes, fortes, prontos para fazerem diferença.
Um papel que na Argentina é exercido pela cidade de Rosário, com aproximadamente 1 milhão de habitantes e com dois clubes, o Newell’s Old Boys e o Rosário Central, ambos com títulos e participações importantes tanto no Campeonato Argentino como nas competições promovidas pela Conmebol.
Hoje fazem campanha ruim no campeonato nacional, mas na temporada 2016-2017, o Newll´s Old Boys ficou em nono lugar com 49 pontos e o Rosário Central na décima segunda posição com 44 pontos.
Em 2015, o Rosário Central disputou vaga a Libertadores e o Newll´s esteve envolvido no play off´s para decidir os classificados à Copa Sul-Americano. Neste ano, por enquanto, o rendimento é decepcionante e na classificação com 30 times, os dois rivais encontram-se na parte debaixo da classificação. Mas configura um ponto da curva em relação à competividade dos rivais de Rosário.
Detalhe: na terra de Maurício Macri, outro defensor da elitização do futebol, Boca Juniors e River Plate levam boa parte da grana da televisão. Há muito tempo. Nem por isso outros deixam de surpreender, como Lanús, campeão da Sul-Americana de 2013 e vice na Libertadores do ano passado.
O que falar então do San Lorenzo, dono de orçamento mais modesto do que os gigantes e campeão da Libertadores em 2014? Em Campinas, os erros permanecem. Os dirigentes erram aos borbotões e ficam encastelados no poder. Parte da torcida considera que está tudo bem. Pior: batem palmas para quem coloca os clubes em tal situação.
Campinas não poderia ser diferente? Os dois clubes não deveriam encontrar-se na divisão principal do Paulistão e do Brasileirão e protagonizar três empolgantes dérbis todos os anos? Se você verificar os dados de Campinas, o quadro fica tenebroso.
A chance perdida fica evidente. Em 2017, sua população foi estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1.182.429 habitantes, sendo o terceiro município mais populoso de São Paulo (ficando atrás de Guarulhos e da capital) e o décimo quarto de todo o país. Campinas aparece em quinto lugar entre 100 municípios analisados pelo Índice das Melhores e Maiores Cidades Brasileiras, o BCI100, elaborado pela Delta Economics & Finance, com base nos dados do Censo 2010 do IBGE e do Ideb.
O que isso quer dizer? Grana, consumo, poderio econômico, um potencial que vai as alturas quando verificamos que a Região Metropolitana de Campinas está com 3,3 milhões de habitantes e é a décima região metropolitana mais populosa do Brasil. Apesar da concorrência dos times da capital, as diretorias de Ponte Preta e Guarani comportam-se como se estivessem em um municipio de 100 mil habitantes. São incapazes de contar com, pelo menos, 500 mil adeptos em toda a região metropolitana. Provincianismo na veia. Sem perdão.
Olhe e pense que a cidade é responsável por 15% de toda a produção cientifica nacional. Imagine que dentro deste espectro, unidades como PUC-Campinas e Unicamp são dotadas de Faculdades de Educação Física fissuradas em produção de conhecimento. Até que ponto Guarani e Ponte Preta aproveitam-se deste manancial? Não aproveitam. Simples assim.
Enquanto este potencial é desperdiçado diante dos nossos olhos, o potencial econômico é aproveitado por outras equipes grandes (o Corinthians é a maior torcida da cidade!), nossos assuntos urgentes são a boa campanha do Guarani em um campeonato que não está à altura de sua história e a comemoração da Macaca ter permanecido apesar da seca de vitórias no Majestoso.
Convenhamos: é muito pouco. Quase nada. Espero que algum dia o alerta da ambição, do planejamento da competência apareça nos dois estádios. Não custa sonhar.
(análise feita por Elias Aredes Junior)