Desde junho de 1999, o Guarani teve os seguintes presidentes: José Luis Lourencetti, Leonel Martins de Oliveira, Marcelo Mingone, Álvaro Negrão, Horley Senna e Palmeron Mendes Filho. Mandatários com características diversas e protagonistas de uma crise que parece não ter fim. Apesar da perspectiva de acesso no horizonte e do pagamento das dívidas trabalhistas, o fato é que, daqui alguns anos, o Alviverde mudará de casa. Todo o patrimônio construído por anos e anos será trocado por uma possível estabilidade financeira. Promessas de novas vitórias no futebol. Fica um questionamento: neste período, a imprensa local discutiu e debateu o Guarani de maneira satisfatória? Sem pestanejar: não.
A pauta política tomou tanto o espaço nos noticiários que faltou discutir um fator fundamental que, é a presença de um Guarani antenado com as necessidades do futebol moderno. O Guarani é um clube atrasado. Já deveria contar com um Centro de Treinamento moderno, com diversos campos de futebol e até um hotel reservado especificamente para os jogadores e categorias de base. Dizer que a construção do CT está reservado na sentença da juíza Ana Cláudia Torres Viana é uma maneira disfarçada de dizer que outros presidentes não fizeram o que a história lhes reservou como obrigação. Talvez se o Brinco de Ouro tivesse sido reformado como foi a Arena da Baixada em Curitiba, a lucratividade poderia alavancar a tal ponto de evitar a entrega do estádio porque o clube teria rentabilidade suficiente. E neste cenário todos nós, cronistas esportivos, somos culpados. Culpados também deixar impregnar uma cultura nefasta: discutimos resultados e nunca futebol e seus desdobramentos. Resultado e futebol. Dois conceitos diferentes.
Ficamos na roda gigante de que uma vitória é motivo suficiente para festejar e a derrota é o passaporte do inferno. Em poucas oportunidades discutimos se em médio e longo prazo o técnico de plantão do Guarani montou um bom sistema defensivo, com atenção aos rebotes ou uma marcação atenta que fecha espaços do oponente. Ou se a dupla de zagueiros está entrosada para dar o bote ou confusa para abrir espaço ao contra-ataque. Ou se no setor ofensivo existem triangulações pelos lados, preocupação em penetrar com a bola na área e se no banco de reservas existem variações.
Treinadores e mais treinadores entraram e saíram do Guarani muito mais pelo resultado do que por aquilo que fizeram no gramado. E qual a consequência? Quatro temporadas seguidas na Série C, cinco estadias na Série A-2 e exclusão temporária da Copa do Brasil. E aí? E o trabalho em médio e longo prazo? O que foi feito? Do que será feito? Nós, cronistas esportivos de Campinas, fracassamos de modo retumbante. E eu estou incluído na rota do fracasso.
Querem um exemplo? Aliás, dou dois. O primeiro é Oswaldo Alvarez, astro de uma arrancada fulminante na reta final da Série A-2 e demitido na segundona nacional após a derrota para o Figueirense. Estava mal? Concordo, mas ele próprio tinha dado muitas evidencias de que poderia buscar a recuperação. E dos 44 pontos conquistados pelo time, 31 foram com Vadão. E ninguém discutiu em profundidade o seu trabalho e pior: ninguém teve até hoje coragem de inquirir de maneira enfática o atual presidente bugrino sobre sua decisão.
Em parte por mérito do próprio dirigente, com clara aversão ao trabalho da imprensa e que geralmente utiliza o constrangimento como tática para deixar os repórteres em saia justa. Como também é impossível ignorar o episódio da contratação de Paulo Roberto em 2015 e defendida por parte da imprensa. Ele veio, fracassou e ficou por isso mesmo. Ou seja, nós, jornalistas, não fizemos a mea culpa de que cometemos um equívoco contra a instituição.
Que ninguém se iluda. Umberto Louzer têm méritos totais. Mas nós, cronistas, ainda estamos mais fissurados em descrever as jogadas de Bruno Nazário, os gols de Bruno Mendes do que em destrinchar as qualidades e defeitos daquilo que é feito pelo treinador. Discussão, séria, profunda, sem pressa para apurar uma conclusão sobre a sua metodologia de trabalho. Por que o Guarani toma tantos gols? Não é possível buscar o equilíbrio? No fim, uma hora ou outra, se não ocorrer uma mudança de rumo, nós, cronistas esportivos, vamos ajudar para atrasar a evolução do Guarani.
(análise feita por Elias Aredes Junior)