O apoio a Marielle e o que alguns não admitem: a Ponte Preta vai além do futebol!

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A Ponte Preta é um clube de massa. Do povo. Sofrido. Gente que não tem de onde tirar o próprio sustento e encontra-se na arquibancada. Domingo após domingo. Esperança renovada a cada 90 minutos. Não é um clube comum. Está além dos 90 minutos. É a principal responsável por abrir caminhos para que Campinas quebrasse tabus, alargasse fronteiras e adotasse a inclusão como norma de conduta.

Se ninguém lhe contou eu esclareço: a história da cidade está intimamente ligada com a escravatura. Infelizmente. Foi um parto para que a abolição virasse algo de fato e de direito na Terra das Andorinhas. Negros eram cidadãos de segunda frase. Ouso dizer: a Ponte Preta deu cidadania aos negros campineiros e forasteiros. Não só por intermédio de Miguel do Carmo, o pioneiro que calçou uma chuteira para defender a sua pátria de faixa transversal. As arquibancadas eram o horizonte da liberdade. Em que todos eram iguais. Sem distinção. Negros oriundos de diversas partes do pais só tinham o aconchego do estádio Moisés Lucarelli para sentirem incluídos, queridos, amados.

Não era apenas convivência de um jogo de futebol. Era um ato político.

Calma, a palavra lhe causa urticárias. Não lhe condeno. Os políticos, a politica e tudo que lhe cerca tiraram sua paciência, sua alma. A política vai além da urna. É posicionamento. Postura. Coragem de perfilar-se ao lado dos oprimidos e de quem precisa de auxílio.

Quando um grupo de torcedores, presentes ao Majestoso, em jogo de Torneio do Interior, contra o Mirassol, estica uma faixa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada barbaramente no Rio de Janeiro, eles não fazem uma propaganda do partido da vereadora. Nada disso.

O pedaço de pano, com os dizeres em forma garranchada (Marielle presente) é, antes de tudo, um grito de socorro. Um apelo desesperado. Para que Marielle’s e homens negros que adotaram a Ponte Preta como o clube do coração (e de outros clubes também) tenham sua dignidade preservada. Possam viver em paz, em harmonia e terem liberdade não só de debaterem os lances bonitos da Macaca. Ou considerarem positiva ou negativa a contratação de Doriva. Essas pessoas tem o direito de exercerem algo simples e que por vezes parece distante: cidadania.

Quem estende uma faixa em solidariedade a Marielle tem a percepção exata de que a Ponte Preta não é apenas um time de futebol. É um conceito, uma força motriz capaz de alterar os rumos não só do futebol, mas de uma cidade, estado ou país. Desde o século passado, Nelson Rodrigues ensinava uma lição preciosa e pronta para ser repassada. “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.”

(análise feita por Elias Aredes Junior)