Contra o Votuporanguense, o golaço do Guarani foi anotado nas arquibancadas. Que bom!

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Quando o Guarani foi campeão brasileiro de 1978, o seu triunfo foi muito além do gramado. Vivíamos tempos de regime militar, de estado de exceção e Campinas era um dos principais focos de resistência. Primeiramente com a formação em 1965 da Unicamp, responsável pela criação de intelectuais de ponta. Posteriormente, as urnas nunca deram à Arena, o partido do governo, a primazia de dirigir o Palácio dos Jequitibás. A oposição sempre deu as cartas.

No futebol, o triunfo do Guarani era um tapa na Comissão Técnica da Seleção Brasileira formada quase 100% por militares e que abraçava um futebol feio, retrancado e pragmático. O Guarani ofensivo tinha uma postura além do seu tempo.

Por questões do destino foi algo que se perdeu. Crises, abalos financeiros, campanhas horrorosas e luta fratricida pelo poder fizeram com que o torcedor esquecesse esta vocação bugrina para se posicionar, demonstrar descontentamento com o estado de coisas reinante não só no futebol, mas na cidade e no próprio Brasil.

A esperança não morre. Ela está guardada pronta para ser germinada. Produzir frutos que viabilizem não só uma torcida apaixonada pelo seu clube, mas por tudo que cerca ao redor.

O palco é um espaço inesperado: as redes sociais. Sou alertado pela manhã da atitude das torcedoras bugrinas Laís Passoni e Flávia Vasconcelos duranta vitória sobre o Votuporanguense por 2 a 1.

De modo simples e sem enfeites elas pegaram uma bandeira do clube do coração e escreveram uma mensagem simples, direta, sem rodeios e de grande significado: “Marielle Presente”. Um protesto pelo assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e que até agora não há qualquer vestígio dos autores de crime tão bárbaro.

O local para homenagem não poderia ser mais apropriado. O tobogã, espaço reservado anos e anos ao torcedor bugrino mais pobre, sem condições financeiras para pagar um camarote ou uma vitalícia. O local de congraçamento de quem luta pela vida, pela sobrevivência e encontra no futebol um fator de sobrevivência e alento. O local do povo.

Também não me espanta que tenham sido duas mulheres. As torcedoras do Guarani dão goleada nos homens em qualquer tema. Falar de “Tia Tânia” e suas caravanas é chover no molhado, assim como Luiza Helena Cagliari Souza, responsável por trabalho impecável quando esteve a frente do Conselho Deliberativo do Guarani. Aliás, já passou da hora do Guarani contar com uma presidenta.

Laís e Flávia, com um simples gesto, demonstram o poder quase infinito de influência da torcida do Guarani. Demonstram por A mais B que o torcedor pode e deve ser um agente político e com posicionamentos claros nas arquibancadas. E que o futuro do Guarani não passa por um comportamento apático e alienado dos seus torcedores e sim por uma postura altiva e determinada. Assim como Laís e Flávia, que marcaram o principal golaço naquela tarde de sol do estádio Brinco de Ouro. Que esse timaço cresça cada vez mais. Para o bem do Guarani e do próprio país.

(análise feita por Elias Aredes Junior)