O jornalismo esportivo campineiro precisa melhorar. As Faculdades precisam ajudar. Muito!

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Nada como o tempo para demonstrar verdades. Ou exibir tendências. Por duas oportunidades, tive a chance de ouvir reclamações e denúncias de injustiças sofridas por ex-alunos da PUC-Campinas e de outras universidades em relação aos seus trabalhos de conclusão de curso. Invariavelmente correram até risco de reprovação. Motivo: docentes responsáveis pela avaliação gritam em alto e bom som que quem cobre esporte não pode ser enquadrado como jornalista. Convenhamos: uma estultice e burrice de proporções gigantescas.

Nesta semana escrevi que o jornalismo esportivo precisa de uma reciclagem e buscar novos caminhos. Especialmente em Campinas. Mas as faculdades de jornalismo precisam ajudar. O primeiro passo seria enquadrar profissionais de que, no exercício do ofício de ensina, são contaminados por um preconceito que por vezes pode inviabilizar profissionais talentosos. E que não venham com a falácia que a opinião do profissional deve ser respeitada. Neste caso é balela. Seria o mesmo que um clínico geral recusar-se a atender determinado paciente porque não gosta de tratar determinada doença.

Sei que tal teoria torta e sem nexo encontra ressonância entre outros professores de jornalismo. E isso também explica a baixa qualidade do jornalismo esportivo praticado em Campinas, no Brasil. Ora como posso viabilizar a melhoria do jornalismo esportivo se quem pode auxiliar na missão adota a recusa como norma?

Quem nutre de tal conceito é dotado de um desconhecimento histórico assustador. Existe uma vertente do jornalismo esportivo voltado ao entretenimento e que foi construído nas décadas de 1940 e 1950 por intermédio do rádio e até da Grande Resenha Facit, a principal mesa redonda da história. Como a atuação de Mário Filho não pode ser ignorada. Utilizou o seu “Jornal dos Sports”para propagar e fomentar os clássicos cariocas. Ok, é o entretenimento com a missão de contaminar o jornalismo.

Mas é preciso dizer que existem diversos outros assuntos inerentes ao jornalismo esportivo e que sem o trabalho de investigação seria impossível. Em 1981, a Revista Placar, por intermédio do repórter Sérgio Martins, denunciou uma relação de jogadores, técnicos, dirigentes e figuras responsáveis em manipular os resultados da loteria esportiva. Isso motivou uma série de processos e investigações. Isso não é jornalismo esportivo?

Na Copa de 1986, o jornal da Tarde, liderado pelo Chefe de Reportagem, Roberto Avalone, liderou um processo de investigação que desnudou os bastidores e podres da Seleção Brasileira eliminada no México. Ganhou prêmio Esso, o principal do Jornalismo geral por décadas e décadas.

O que dizer então da Revista Veja, que com uma reportagem de André Rizek expôs o esquema de manipulação de Resultados e que tinha como um dos seus participantes Edílson Pereira de Carvalho. Rodadas inteiras do Brasileirão de 2005 foram canceladas. Como negar que isso é jornalismo esportivo? Crime é ignorar o trabalho de Gabriela Moreira na ESPN e de Jamil Chade, dotados de ferramentas capazes de exibir sem pudor os pecados de seus personagens.

Lúcio de Castro, premiado jornalista carioca, é o autor de documentário que escancara as conexões dos regimes ditatoriais com o futebol da década de 1970 no Brasil, Argentina e Uruguai. “Operação Condor” tem uma coleção de prêmios. Jornalismo esportivo de altíssima qualidade. Por anos e anos, a Folha de S. Paulo deixou a cobertura dos jogos em segundo plano e apostou todas as suas fichas. Mostrou as vísceras dos bastidores dos cartolas e dos clubes e federações. Se isto não for jornalismo esportivo, isto é o que? Programa de culinária?

O jornalismo esportivo brasileiro pede socorro. Precisa de melhorias e novas maneiras de apuração e de abordagem. Mas sem o assassinato de preconceitos oriundos da Academia a tarefa ficará bem mais difícil.

(análise feita por Elias Aredes Junior)