Emissoras de televisão foram invadidas por uma oportuna campanha #deixaelatrabalhar, um grito contra o assédio sofrido pelas jornalistas dentro dos estádios brasileiros. Campinas não foge do problema. Aliás, talvez o quadro seja ainda mais delicado e grave, especialmente pela falta de espaço da mulher nos veículos de comunicação.
Uma vergonha para todos os portais e emissoras locais que apenas três mulheres estejam na labuta para acompanhar os times campineiros. A única, Adriana Almeida, da Rádio e Tv Bandeirantes está constantemente nos dois estádios e pobre do seu ouvido pelos impropérios e xingamentos dirigidos a ela em conjuntura adversa. Não merece e não pode ser submetida a este tipo de humilhação.
Sem contar o ambiente machista reinante no futebol, em que a cantada e o assédio viraram rotina. Não exclua o Brinco de Ouro e o Majestoso desta conta nefasta.
Por que atos tão abjetos acontecem? Por que homens viram seres repugnantes e destilam conceitos baixos e sem sentido? Talvez a campanha contra o assédio às jornalistas revele algo que poucos admitem: o futebol e o jornalismo esportivo se constituem a ultima fronteira do machismo. Basta ver que os programas de debates do período da tarde não há uma única mulher comentarista. Vergonha.
Quando digo machismo eu aponto do modo mais torpe. De muitos homens se considerarem superiores apenas por serem homens. Não importa se ele é tosco, desprovido de preparo intelectual, grosseiro nos modos e no procedimento. O futebol é o seu conforto. Especialmente quando o futebol é tratado de maneira superficial, repetida e cheia de clichês, tanto nas arquibancadas como, entre nós, jornalistas. Sim, nós somos machistas. Não admitimos, mas somos. Pior: não lutamos para extirpar tal sentimento da alma.
Agora, pense. A mulher sofreu preconceitos e precisou de um preparo melhor para entrar no mercado de trabalho. Em qualquer área. Viu e venceu. Pensem que essas mulheres, com melhor capacidade, invadem um ambiente, seja no jornalismo ou no dia a dia da bola, impregnado de ogros por todos os lados. E faz diferença. Para melhor. Em contrapartida, os homens são despreparados.
Pior: que não reconhecem o talento alheio. Dou e cito exemplos práticos. Profissionais como Milly Lacombe, Soninha, Carla Matera, Marília Ruiz, Ana Thaís Mattos, Mayra Siqueira, Lívia Laranjeira, Renata Medeiros dão de 10 a 0 em qualquer um de nós, jornalistas esportivos. Visualizam o futebol com melhor sensibilidade do que muitos torcedores. E o que recebem como prêmio? Insultos nos estádios.
Como não suplantam a competência e a eficiência das mulheres, qual a saída encontrada pelos é subjugar, constranger e destroçar a autoestima dessas mulheres. A meta é que elas fiquem constrangidas e pensem até em se retirar do campo de batalha. Não podem. Não devem. Não merecem.
A campanha é oportuna não só para alertar aos torcedores campineiros e de todo o Brasil para deixarmos esta chaga no passado, mas para que nós, homens, possamos colocar de uma vez por todas na cabeça que não adianta ser bonitão e ostentar um cérebro vazio de conceitos do século 21 e abraçar o machismo, típico de um Brasil colonial e retrógrado. É hora de virar a página e entender o básico: o lugar da mulher é onde ela deseja estar. E nós, homens, não temos nada a ver com isso. Mais: devemos abaixar a cabeça, reconhecer os erros e melhorar. Para o bem de todos.
(análise feita por Elias Aredes Junior)