Por que Beto Zini não conseguiu formar sucessores para tocar o futebol no Guarani?

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Determinado dia, eu estava na avenida Benjamin Constant quando um carro passou em velocidade mediana. Um senhor acenou-me de modo atabalhoado. Vi de relance. Era Luiz Roberto Zini, o Beto Zini, presidente de 1988 a 1999 do Guarani Futebol Clube. Desde então, está afastado do futebol. Mas não desliga. Tanto que no mesmo dia entrou em contato comigo no estúdio da Rádio Central para pedir desculpas por não ter parado e conversado.

Todo esse episídio, ocorrido há três semanas, produziu uma reflexão em minha mente: por que Beto Zini não formou sucessores? Não digo na parte administrativa, pois cometeu seus erros como outros presidentes que passaram pelo clube nos últimos 30 anos.

Só que é impossível deixar de constatar o conhecimento profundo de futebol por parte de Zini. Incluído na vida do Guarani desde a década de 1970, Zini foi diretor de futebol na década de 1980 e foi terceiro lugar do Paulistão de 1985.

Perdeu uma eleição para Leonel Martins de Oliveira e ganhou em final de 1987 e depois permaneceu 11 anos no poder. É bom que se diga que naquela ocasião o futebol não tinha cotas milionárias de televisão, a propaganda na camisa ainda engatinhava, o marketing esportivo era um conceito vago e não existiam as televisões por assinatura para formar heróis e vilões em um passe de mágica.

Apesar das adversidades, Zini aproveitou o seu conhecimento do mundo da bola para formar pelo menos três times que merecem destaque: o primeiro em 1988, quando foi vice-campeão paulista e teve nomes como Neto, Boiadeiro, Barbieri, Evair e João Paulo, uma base formada por Leonel Martins de Oliveira e que ele acrescentou outros nomes.

Seis anos depois, a dupla formada por Amoroso e Luizão, junto com outros destaques chegou a terceira colocação do Brasileirão. Dois anos depois, primeiramente com Carbone e depois com Carlos Alberto Silva, o Guarani chegou as quartas de final do Brasileirão e tinha no atacante “Ailton Queixada” como principal estrela.

Diante deste histórico, pare e pense: todos os clubes brasileiros enfrentam dificuldades financeiras. Todos nutrem dificuldades para pagar as contas. Mas vira e mexe, conquistam títulos ou alcançam colocações relevantes no cenário nacional. Nem lembre dos gigantes. Relembre Chapecoense, Sport, Coritiba. Todos os bons resultados destas equipes existia um especialista ou dirigente de futebol envolvido no trabalho.

Por 11 anos, o Guarani teve esse especialista. Zini errou, acertou, produziu decepções (como o rebaixamento no Brasileirão de 1989), alegrias ou atos de desatino. E não formou sucessores. Não viabilizou uma escola, um jeito de produzir futebol que fizesse o Guarani passar com dignidade por crises e turbulências, independente de quem estivesse no poder.

Tanto que os acessos obtidos nos últimos é fruto muito mais de rompantes individuais. Em 2007, o trabalho começou com Waguinho Dias e depois Carbone descobriu garotos que asseguraram o acesso na Série A-2; no ano seguinte, o mérito é da tenacidade do então técnico Luciano Dias e do gerente Beto Costa; o milagre de 2009 pode ser creditado a dupla formada por Vadão e Gersinho. A última promoção, ocorrida em 2011, só aconteceu porque o Guarani teve um especialista na divisão, o técnico Vilson Tadei. Vice-campeonato paulista de 2012? Receita que deu certo graças ao retorno de Vadão e Gersinho e talvez do último dirigente bugrino que entende a alma do boleiro: Cláudio Corrente.

As informações geram novas perguntas: e os dirigentes de futebol? E a interferência certeira no vestiário? Sim, esses atributos fizeram falta nos últimos quatro anos. Coincidência ou não, a esperança retorna quando o Guarani contrata um técnico e um dirigente especialistas na terceiro divisão, que no caso são Marcelo Chamusca e Rodrigo Pastana, respectivamente.

Convenhamos: se Beto Zini tivesse deixado um grupo especialista de futebol, com capacidade de entender e compreender a alma do boleiro, a história do clube seria diferente nos últimos 15 anos. Por que não criou? Se conseguiu criar, qual foi o motivo para esse material humano não ter sido aproveitado?

Essas respostas só a história e o próprio Beto Zini poderão responder.

(análise feita por Elias Aredes Junior)