Palmeron talvez não vá gostar da linha de pensamento deste texto. Seus parceiros de Conselho de Administração idem.
Os dirigentes do Guarani, em trajes sociais da moda e calçados com sapatos de couro, querem receber os louros pela conquista da Série A-2. Até os investidores não ficam atrás.
Querem reconhecimento. Pois eu digo que o principal “dirigente” da história do Guarani dos últimos 20 anos talvez sequer entrou no estádio. Talvez nem saiba a escalação ou a trajetória de Umberto Louzer. Assim como o martelo de Thor, concentra em sua caneta os poderes responsáveis pelo aparecimento de uma credibilidade perdida. Mais: é uma mulher, algo impensável em um mundo machista como o do futebol. Seu nome: a juíza trabalhista Ana Cláudia Torres Viana.
Este jornalista já conversou com diversos especialistas em direito trabalhista. E muitos abriram as possibilidades para a resolução do Brinco de Ouro. A juíza poderia decretar intervenção no clube; poderia autorizar a venda pura e simplesmente e não exigir qualquer contrapartida. Sim, ela tomou medidas impopulares. Só que o saldo é positivo.
Além de exigir de Roberto Graziano os retornos esperados como a construção de um estádio, Centro de Treinamento e sede social, reconheço que a juíza fez um gol de placa ao, na prática, decretar uma intervenção indireta no Guarani ao tomar duas medidas: a prestação de contas mensal das contas do clube e em uma fase posterior, a realização de pagamento dos salários. Os jogadores do Guarani recebem em dia, graças a intervenção judicial.
Só gostaria de saber da juíza (e não existe ironia, é dúvida mesmo) se os funcionários gozam de idêntico privilegio porque vira e mexe as redes sociais são invadidas por relatos de atraso no pagamento de salário dos funcionários.
Mais: se a Justiça faz o pagamento destes salários porque costumeiramente as especulações retornam? Onde está a falha?
Após os desastres nas gestões de José Luis Lourencetti e de Leonel Martins de Oliveira, o grande desafio era arregimentar jogadores de qualidade. Por que? O mundo da bola tinha dúvidas sobre a correção no pagamento dos salários.
Em resumo: o atleta recebia a oferta, consultava companheiros de profissão e recebia como resposta: “Não vai, é fria”. Uma dinamite na credibilidade. Destruição.
A resposta mudou. Quando afirmam que o pagamento será pela Justiça fica a garantia de que o dinheiro ficará sob a responsabilidade da juíza. A chance de êxito é infinitamente maior. Mais: mesmo que ocorra atraso em premiações e outros benefícios, o básico está garantido e com a chancela da juíza.
Só existe um porém neste cenário: a lua de mel tem hora para acabar. Um dia acaba a necessidade de prestação de contas, os pagamentos por via judicial e os dirigentes entrarão em campo não somente para definir as contratações como também na quitação dos vencimentos.
Enquanto este dia não chega não há como negar: Ana Cláudia Torres Viana é a principal dirigente do Guarani neste ano. E nos próximos.
(análise feita por Elias Aredes Junior)