Confesso meu cansaço em relação a alguns assuntos. Bater na tecla, desfilar os argumentos e conviver com a frustração. Hoje o Guarani está bem. Decreto: não pode ser criticado. Nos bastidores, em conversas duras com os dirigentes, o pedido é para “ajudar”, maneirar, dar um tempo, não expor o lado negativo. Atitude provinciana. Aceita por muitos.
Torcedores vão nesta onda. Vivemos um tempo em que o Guarani está em águas tranquilas porque tem um técnico promissor e competente – Umberto Louzer – uma juíza trabalhista, Ana Cláudia Torres Vianna, que pegou as contas do clube na unha e lhe concedeu dignidade, algo jamais feito por administrações anteriores.
Somos proibidos veladamente de criticar. Veladamente. Por dirigentes e até por torcedores. Não entendo. Não compreendo.
Queria entender o que existe de positivo um clube encontrar-se há oito anos fora da divisão de elite. Detalhe: que já foi campeão brasileiro, participante de Libertadores, entre outros feitos. Tento buscar o lado lúdico de permanecer seis anos na terceira divisão e encontrar-se destruído financeiramente. Ser ultrapassado por Chapecoense, Atlético-PR, Sport e outros que, no passado, sequer se aproximavam. Qual lado alegre em escapar do rebaixamento à Série C na penúltima rodada do ano passado?
O que existe de alvissareiro ficar 13 anos sem revelar um jogador com potencial de Seleção Brasileira? O que falar dos quatro anos de ausência da Copa do Brasil e que só será realidade em 2019 porque a atual comissão técnica, juntamente com atletas abnegados, obtiveram o título da Série A2?
Mais: não há nada de positivo em entregar o patrimônio para pagar dívidas trabalhistas. Óbvio que existe o alívio gerado por contemplar famílias que não tinham direito a nada. Agora, será que um pai de família, em nome de pagar as dívidas, ficaria contente em entregar a casa paga com tanto suor e sacrifício?
Você, torcedor bugrino, já está contrariado por eu expor tais argumentos nesta boa fase. Reclamaria também se isso fosse dito se o time estivesse em má fase. Pensamos no hoje e na vitória imediata. Sequer esboçamos planejar o futuro.
Do jeito que está basta um toque e tudo vai desmoronar. Não sinto qualquer felicidade em dizer tal conceito.
Quem tem um mínimo de conhecimento daquilo que acontece no futebol brasileiro sabe que o Guarani está atrasado. Muito. Que frutos podem ser até colhidos em médio prazo (exemplo: acesso à divisão de elite nacional), mas não há qualquer sinal de que uma administração com resultados perenes será instalada.
Não refletimos sobre os problemas e desafios do Guarani. As táticas utilizadas são o silêncio, tentativa de constrangimento de opinião oposicionista e venda de um mundo cor de rosa. Detalhe: às vezes nem é autoria da diretoria, e sim de torcedores que acreditam piamente que a solução é jogar tudo para debaixo do tapete. Saiba: um dia a conta virá. De modo amargo. E se alguns não lhe revelam a verdade, sinto lhe dizer: isto não te beneficia em nada.
(análise feita por Elias Aredes Junior)