O meu dérbi. Por Elias Aredes Junior. Campineiro e Jornalista.

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O que é importante sempre é levado no coração. Impulsiona. Faz evoluir. Ninguém escapa disso. Seja homem, mulher, criança ou idoso. Não estou excluído. Tenho 45 anos. Desse total, tenho 24 dedicados ao jornalismo. Esportivo. Com orgulho. Opção de vida. Juntamente com algumas regras: retidão, ética, honestidade e empatia ao semelhante. Nunca descartei essas regras. Jamais em um jogo da dimensão de um dérbi.

Neste 25 de agosto precisei aprender a amar e gostar de uma nova maneira. Sozinho. Solitário. Sem amigos, companheiros de profissão ou colegas. Sem trocar uma única ideia. Eu e a televisão. Um computador ao lado de uma escrivaninha. E só.

Doeu. Como doeu no dia 05 de maio. Não pelo jogo em si, e sim pela ausência de não poder conversar, discutir, debater, abraçar, tocar e ser solidário com colegas de profissão, torcedores. Futebol não é bola na rede. Futebol é, antes de tudo afeto, sentimento, amor ao próximo. Era algo defendido por João Saldanha, minha referência profissão. Sua biografia, de autoria de André Iki Siqueira, descreve que aquilo que mais gostava era chegar no Maracanã e conversar com as pessoas, bater papo sobre o clássico da tarde, dar risada de algum causo ou simplesmente utilizar o microfone para defender os direitos dos torcedores desprotegidos. Não ligava para dinheiro, rios de propaganda ou interesses financeiros. Queria e desejava conviver com o torcedor e sentir seu sofrimento.

Seja qual for a conjuntura, não tive nada disso. Apenas uma sala, uma televisão e meu cérebro para destrinchar um jogo para pessoas que jamais eu vi, mas que admiram, apoiam e incentivam meu trabalho e antes de tudo, a minha pessoa.

Gente presente no estádio Moisés Lucarelli e que conversava comigo pelo programa de mensagens durante o jogo. Era como se esses torcedores anônimos, que jamais trocaram uma palavra comigo pessoalmente, quisessem me dizer: “Não adianta fugir. A gente não esquece de você!”. É bom se sentir amado, querido, acalentado. Mesmo que à distância.

Não sou uma pessoa fácil. Talvez essa obsessão por conhecimento, por querer conhecer, entender e decifrar o que é essa gente campineira e seus times é que me faz  sofrer agora um silêncio imposto por tabela. Por dirigentes, colegas de profissão e torcedores oposicionistas. Alguns chegam a espalhar sobre minha arrogância, prepotência. Será que sou? Não sou? Não sei. Tento não ser. No entanto, o ser humano é contraditório, invejoso, vaidoso. Por vezes querem lhe imputar defeitos que você ás vezes nem tem. É a forma de lhe derrotar.

O futebol é como vida: perde-se algumas coisas. Ganha-se outras. Vivi tempos de integração. Agora vivo de exclusão. A timeline do Facebook roda e me deparo com uma confraternização de uma empresa em que atuei. Pós dérbi. Alegria, cerveja, petiscos e bate papo. Todo mundo em confraternização.

Eu, particularmente, não tive ninguém para trocar ideias. Só tive a certeza de que, por mais que me coloquem em uma solitária, não vão tirar o dérbi e o futebol da minha vida. Por mais que queiram silenciar a minha voz pela postura da indiferença, isso é pouco ou quase nada diante da minha missão de ser aquilo que preciso ser: um jornalista. Puro. Apaixonado por um jogo, por um clássico. Hoje não divido, não compartilho essa paixão com ninguém. Quer saber? Pouco importa.

O empate por 0 a 0 pode ter frustrado muita gente. Não tive tal sentimento. Mesmo que ninguém queira me ouvir o que tenho a dizer, algo ninguém vai me tirar: a paixão por um clássico que me fez ser o que sou hoje.

(artigo escrito por Elias Aredes Junior/foto: Letícia Martins – Guarani Press)