Análise Especial: Conceição e o fim de uma era nas arquibancadas do Majestoso

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Quando qualquer jornalista recém-formado começava em Campinas a vida de repórter esportivo em meados da década de 1990 tínhamos algumas certezas se o destino fosse acompanhar a Ponte Preta.

Primeiro a de que era um clube em eterna ebulição e com torcida apaixonada. E que os treinamentos no Estádio Moisés Lucarelli tinham como anfitriã uma senhora de cabelo esvoaçante, raciocínio rápido e com tiradas engraçadas contra qualquer um que desejasse ameaçar os seus “meninos”.

Era impossível decifrar a Ponte Preta sem conhecer Conceição.

Em um mundo da bola dominado por homens grosseiros e com comportamentos machistas, chamava atenção o fato de uma mulher traduzir o sentimento de uma agremiação popular. Uma mulher com filhos, netos, com obrigações na sociedade, mas que não esquecia o seu clube do coração.

Conceição estava em todos os cantos. Bragança Paulista? Ela estava lá. Rio de Janeiro? Olha ela no meio da arquibancada. Decisão de Campeonato Paulista no Parque Antártica em 2008? Antes de seguranças ou repórteres, a primeira pessoa vista pelos jogadores foi Maria Conceição Rodrigues.

Somos conduzidos por interesses. Ambições vazias. Um toma lá da cá a custa da sobrevivência. Conceição subverteu as regras. Entregava tudo à Ponte Preta: alma, emoção, coração, bondade, garra, determinação. O que pedia em troca? Nada. Ou melhor: queria sim. Vitórias e alegrias após os 90 minutos. Torcedora em estado puro.

Nos últimos anos, doente e com impossibilidade de se locomover pelo Brasil, mesmo que indiretamente repassou o cetro para Totó. Isso não impede de se constatar que seu falecimento talvez encerre uma era.

Uma época em que o torcedor amava seu clube a partir das ondas do rádio e com os nervos a flor da pele produzidos a cada partida presenciada in loco.

Conceição, com suas virtudes e defeitos, como qualquer ser humano, trazia dentro de si uma característica indissociável da Ponte Preta: paixão infinita que produz sofrimento e alegrias impossíveis de se mensurar e detectar.

Que os pontepretanos entendam este legado e ampliem. Ela merece. Descanse em paz, Conceição.

(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)