Análise Especial: Como a “ditadura dos boleiros” atrapalha a campanha da Ponte Preta na Série B do Campeonato Brasileiro

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Alguns pontos precisam ser colocados logo de cara neste artigo. A campanha decepcionante da Ponte Preta na Série B tem diversos culpados. Em primeiro lugar, a diretoria executiva por sua incapacidade de resolver problemas internos e políticos. O departamento de futebol profissional primeiramente com Marcelo Barbarotti e depois com Gustavo Bueno por suas escolhas erradas na montagem do elenco. O técnico Gilson Kleina não pode ser isentado em virtude de um esquema tático com pobreza de variação e de execução.

Só que é preciso encerrar com esse paternalismo que tira das costas dos jogadores toda a culpa pelo fracasso e que posteriormente colocamos nos outros personagens citados.

O Brasil vive uma “ditadura da Boleiragem”. Jogadores mandam e desmandam nos vestiários, não assumem responsabilidades, e em caso de fracasso trocam de clube como se troca de camisa. Parece que não tem nada a ver com o processo. O Cruzeiro e o Fluminense são modelos acabados. A Ponte Preta também. Detalhe: algo que prevalece mesmo com dirigentes de pulso firme. O sistema impõe regras. Engole sem dó.

Com toda a razão, rodada após rodada, criticamos com veemência os desmandos dos dirigentes, as escolhas erradas dos mandatários e dos treinadores. E os jogadores?

Quem protagonizou vexame duplo diante do Aparecidense foram os atletas que vestiam a camisa da Ponte Preta. Quem vacila em jogos decisivos é quem está no gramado. Os dirigentes poderiam atuar de modo mais eficiente ? Não há dúvida. Mas quem corre no gramado e busca as vitórias são os atletas. Nada mais lógico eles serem cobrados pelos fracassos. E não estão. Longe da maneira ideal.

No caso da Ponte Preta, um raciocínio pode ser colocado. Atletas que ganham de R$ 15 mil a R$ 100 mil mensais como o que registra o estádio Moisés Lucarelli são seres privilegiados na escala social do Brasil.

Pare e pense: digamos que você receba R$ 20 mil mensais por 10 anos. Terá recebido a quantia de R$ 2,4 milhões ao final do periodo. Em um país com 13 milhões de desempregados e com 60% dos brasileiros que recebem um salário minimo, de acordo com o IBGE , este camarada que joga pela Ponte Preta e tem este rendimento é um eleito dos céus.

Por que não pode ser cobrado?

Por que seus erros não podem gerar consequências no dia a dia da sua atuação profissional?

Por que devemos trata-los como crianças ou adolescentes que devem ser protegidos e mimados?

De certa forma, os jogadores da Ponte Preta e de todos os clubes do Brasil gostam de impor esta “ditadura” que clama por dependência. Viver a sombra do empresário ou do diretor ou executivo de futebol que está à disposição para amenizar o primeiro tropeço é o caminho para que depois, quando pendurarem as chuteiras vivam o debacle financeiro. Quem não tem responsabilidade não saberá viver quando as mordomias acabam. E sem saber assumir as tarefas não há como buscar sobrevivência.

Você pode argumentar:  O que tudo isso tem relação com o empate com o Bragantino no sábado á tarde no Majestoso? Tudo. Porque estes atletas saíram do gramado, tomaram banho, vestiram suas roupas e foram para suas casas confiantes de que novamente a culpabilidade restrita lhe será aplicada.

Dirigentes, técnicos e outros personagens serão cobrados enquanto o atleta, detentor de bons rendimentos e toda a paparicação do seu staff estará a salvo. E que poderá exibir o futebol meia boca de sempre na próxima rodada e que mesmo sem a aparição do resultado nada lhe acontecerá. Melhor: em 2020, terá emprego para continuar com seu esteio de privilégios em outra cidade e será recebido de tapete vermelho. A Ponte Preta? Ah, que se exploda, pensa o boleiro.

E vou tocar em uma ferida: nós, cronistas esportivos, somos culpados diretos por esse comportamento dos boleiros. Adotamos o discurso que somente o dirigente e o técnico deve ser culpados pela má fase da equipe. Enquanto isso, o boleiro goza de impunidade e imunidade.

Com o Bragantino foi frustrante. Especialmente pela falta de fibra e alma. Excetuando-se alguns jogadores, como o centroavante Roger , o volante Washington, entre outros. Em outros o que se viu foi o espirito de quem disputava um amistoso  e não a última esperança para chegar a divisão de elite. Sentimento nutrido pela convicção de que o fracasso não trará consequências.

O futebol pontepretano e de outros clubes no Brasil só será profissional quando o atleta que atua nas Séries A e B do Brasileirão  for tratado da maneira que merece. Ou seja, alguém que detém rendimento privilegiado e que precisa mostrar retorno no gramado. E que deve pagar pelas consequências de sua negligência. Enquanto a atual estrutura permanecer, a Macaca e outros clubes vão sofrer a tortura imposta pela ditadura da boleiragem.

(Elias Aredes Junior)