Análise Especial: o jornalismo esportivo vai mudar após a quarentena? Tomara

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Este blog trata fundamentalmente dos fatos de Ponte Preta e Guarani. De futebol. De imprensa também.

Sim, gosto de olhar no espelho e visualizar meus defeitos. E buscar corrigi-los. Evitar cair na mediocridade. O burburinho gerado pela saída da advogada Gabriela Priolli do quadro “Grande Debate” da CNN Brasil fez com que o tema caísse no jornalismo esportivo. Calma. Não foi obra dela e sim do articulista do Uol, Chico Alves, que escreveu o seguinte: “(…) Basta de fazer da discussão política uma extensão dos debates esportivos, onde cada um pode falar qualquer asneira, sem embasamento para arrematar a cada contestação: essa é a minha opinião (…)”. O colunista foi certeiro e feliz.

O jornalismo esportivo brasileiro está preso há decádas em dois clubes: um é formado por jornalistas, ex-jogadores e apresentadores que adotam a ideia rasas, preconcebidas e sem nexo e que são assimiladas rapidamente pelo torcedor.

Por que? Não fazem pensar. E o torcedor aceita porque temos um entendimento equivocado de futebol.

Consideramos que ele é só entretenimento e por isso não merece profundidade. Somos resultadistas, imediatistas e recusamos o papel que nos é outorgado, o de formador de opinião. Não de manipulador e sim de alguém que fornece subsídios, informações e contextualização para que o torcedor veja com olhar critico aquilo que acontece no gramado e nos bastidores.

Vamos pelo caminho da superficialidade e o quadro só piora.

Dou um exemplo: quando a CBF registra lucro de quase um bilhão de reais afirmar que o resultado é recorde deixa a discussão pela metade.

Deveriamos destrinchar caminhos para esse dinheiro ser melhor investido. As séries C e D são deficitárias. Fato.

O que impede de utilizarmos uma parte dos lucros e dos recursos da CBF para patrocinar uma competição de pontos corridos, turno e returno na terceirona nacional e fómula com mais jogos na quarta divisão? Ou até cogitar uma quinta divisão? Ficamos no meio do caminho.

Uma porque o público não quer. Só deseja saber do seu time. Ficamos em um circulo vicioso. Sem saída

Duro é constatar que temos cronistas esportivos que poderiam fornecer uma formação melhor aos milhões de consumidores de futebol no Brasil. Mas eles não conseguem.

Por que? Primeiro porque boa parte está na televisão por assinatura que tem aproximadamente 15 milhões de assinaturas.

Sejamos otimistas e podemos traçar que o público da TV por assinatura no Brasil chega a 50 milhões de pessoas, ao contarmos os pacotes oficiais e os clandestinos. Mesmo assim é muito pouco perto de um país com 210 milhões de habitantes. Ou seja, a maioria informa-se por televisão aberta, rádio e redes sociais.

E se fizermos uma depuração teremos um grupo de comentaristas preparados, mas se não caem na armadilha do Fla Flu acabam cercados pela erudição inútil: adotam termos rebuscados, expressões “eruditas” e uma linguagem compreendida por um treinador ou um analista de desempenho mas sem nexo com a realidade de quem tem acesso a educação de modo precário.

O que faz a televisão por assinatura especializada em esporte cair na formula de debate em forma de telecath para angariar audiência. E qual a colaboração para a melhoria do debate na opinião pública? Zero.

A quarentena deveria servir de reflexão para nós, jornalistas esportivos. Sim, é preciso informação, contextualização, argumentação e espirito critíco. Requisitos fundamentais. Mas sem adotar uma linguagem simples, clara e direta o conteúdo terá sido em vão. Precisamos mudar o rumo desta prosa. Antes que seja tarde demais.

(Elias Aredes Junior)