Sob o ponto de vista administrativo e de iniciativa no planeta Bola, é impossível criticar o Conselho de Administração do Guarani ao fechar acordo com a cidade de Americana para retomar os treinamentos. A agremiação sentiu uma necessidade, buscou uma alternativa e tal cenário virou realidade.
Assim como não merece qualquer reparo o fato de ter antecipado a testagem dos jogadores e da Comissão Técnica. Se não aconteceu uma ampliação da investigação é porque os recursos são escassos. Tais medidas de Ricardo Moisés e dos integrantes do Conselho de Administração se constituem em um lampejo de eficiência na visão daqueles que estão na bolha do futebol.
Tal postura merecerá elogios e tapinhas nas costas (virtuais) no mundo do esporte bretão. Que tenta de todas as formas ser um universo à parte da vida em sociedade.
Este é o Xis da questão. Queiramos ou não, a ida para Americana é indiretamente uma postura que transmite a sensação de ignorar as ordens do prefeito campineiro Jonas Donizete. Que aliás, permite tal fato ao demonstrar incoerência gritante. O comércio é liberado, os ônibus estão lotados e os clubes são proibidos de treinar. O que faz quem é prejudicado? Busca quem pode acolher sua demanda. Mesmo que ela seja temerária.
Podemos dizer que infelizmente o cuidado com a saúde pública parece encontrar-se em segundo plano para todos os envolvidos. Todos.
Então qual seria o cenário ideal? Que o Guarani apresentasse um plano para ficar em Campinas e como bem disse o jornalista Ariovaldo Izac na Rádio Brasil, que assumisse qualquer responsabilidade caso algum jogador seja contaminado. Se o Guarani está sediado em Campinas que fizesse todo o esforço para treinar na sua aldeia. E que tivesse consciência de que sua postura vai na contramão das recomendações das autoridades da saúde. Seja qual for o local. Ou seja, corre o risco de colher consequências.
No universo restrito do futebol, a ida para Americana é uma jogada de mestre de alguém que deseja fazer de tudo para prevalecer a sua vontade. Se você indagar o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, ele dará total razão ao Guarani. Afinal, o futebol não pode esperar.
Se o questionamento for direcionado a qualquer profissional da saúde, a declaração será na linha de que, apesar de o clube tomar as precauções necessárias, fica uma sensação de desconexão com a realidade, pois a cada dia sobem o número de casos e de mortes, especialmente após a flexibilização.
Mas cá para nós: nesta altura dos acontecimentos, quem liga para coerência? O Guarani apenas aproveitou-se da brecha deixadas pelos desmandos e falta de critério do poder público. Uma pena.
(Elias Aredes Junior- Foto de David Oliveira-Guaranipress)