O jornal O Globo tem pautado a sua editoria de esportes em trazer assuntos que produzam reflexões. Entender que o futebol é, antes de tudo, uma modalidade com ligação umbilical com os fenômenos da sociedade brasileira.
Uma das fotografias tiradas pelo jornal e abordada nesta sexta-feira é triste: dos 75 goleiros registrados na divisão de elite do futebol brasileiro, 16 são negros, o que equivale a 16% do total. Deveria ser mais.
É uma das facetas do racismo estrutural brasileiro, iniciado a partir da decisão da Copa do Mundo de 1950, quando Barbosa foi julgado, condenado e esquecido e como dizia pagou a pena pelo resto da vida.
Basta dizer que nosso ultimo goleiro negro com estabilidade na posição foi Dida, na Copa de 2006. Jefferson, em boa fase no Botafogo na ultima década, nunca teve uma oportunidade para se estabilizar na posição.
Interessante é que o futebol campineiro tem em goleiros negros seus últimos heróis. Aranha está na história pontepretana especialmente pela defesa do pênalti batido por Michel durante a semifinal do Paulistão contra o Guaratinguetá, em abril de 2008. Claro que fez outras partidas brilhantes, mas esse lance foi eternizado.
Emerson, por sua vez, é um retrato dos últimos anos vividos pelo Guarani, pois viveu o rebaixamento no Brasileirão de 2010, mas também degustou o prazer do acesso na Série A-2 em 2011 e ainda a perspicácia na semifinal do paulistão de 2012 e que cravou seu nome no clube. Não tenham dúvidas: se ele, no dérbi de 2012 e válido pela Semifinal, não defendesse o chute de Roger e que evitou o segundo gol pontepretano, os gols de Medina dificilmente seriam realidade.
O filósofo e jurista Silvio de Almeida, filho do ex-goleiro corinthiano Barbosa sempre falou que um atributo que por vezes está ausente nos negros sobram nos goleiros brancos: confiança. Ou seja, é preciso que se confie no seu potencial.
Emerson e Aranha e a trajetória do futebol campineiro comprovam de que tal roteiro pode e deve ser diferente.
(Elias Aredes Junior)