Carbone, a perda de um treinador que conquistou tudo ao acreditar e apostar no ser humano

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As próximas horas serão inundadas por homenagens a José Luiz Carbone. Merecidamente. Boa praça, contador de causos e entendedor refinado de futebol. E uma qualidade saltava aos olhos: a humildade.

Apesar de ter atuado em grandes clubes, apresentar passagens pela Seleção Brasileira e com o currículo recheado de trabalhos como treinador nas principais equipes do Brasil, Carbone discutia futebol e dava igual importância aos argumentos do engenheiro, arquiteto, advogado ou do garçom. Tinha empatia. Mais: respeitava e entendia o trabalho da imprensa.

Poderia nutrir conceitos diferentes dos meus em relação a vida? Pouco importa. Interessava era desfrutar do seu aspecto humanístico, a empatia com os diferentes e os amigos. Isso foi transmitido por “N” vezes.

Fiz um artigo no dia 19 de maio deste ano. Enfoquei o seu protagonismo no Guarani e seu papel. Fiquei sabendo da sua comoção ao ler o texto. É a recompensa da nossa profissão.

Pois eu vou descrever o dia em que senti que o futebol contava com um ser humano diferenciado. O ano era 2007. Ele tinha voltado ao Guarani e os resultados pareciam conduzir a um final feliz.

Em determinada entrevista coletiva, lhe perguntaram qual era o segredo daquela campanha. A resposta me surpreendeu: “Nas preleções e nos treinamentos eu não falo do time adversário”.

Como assim? Comecei a ouvir e receber de graça uma aula de futebol e humanidade.  Carbone dizia que enfocava seu trabalho em enaltecer as qualidades e virtudes do jogador com o qual trabalhava. Incutia na sua mente de que era possível superar obstáculos. E que estava ali para apoiar o atleta. Custe o que custar.

Aquilo não era técnica motivacional ou capítulo de livro de auto ajuda. Era a crença de que um ser humano precisa acreditar e apostar no semelhante. Que ninguém faz nada sozinho. Que o trabalho em conjunto, em torno de um objetivo comum é que transforma cidadãos anônimos em heróis de uma comunidade, de um clube. Ou até de uma nação. Carbone era o sentido contrário da sociedade atual, em que o EU tem valor maior do que o Nós.

E foi isso que Carbone fez em toda sua vida. Transformava equipes médias em conjuntos poderosos. Jogadores medianos em atleta de alta estirpe. Sem deixar calçar o salto alto.

Neste domingo, o futebol brasileiro não perde apenas um treinador de futebol. O que perdemos foi alguém que sempre acreditou no ser humano e nas suas virtudes. E vai fazer uma falta danada. Descanse em paz, Carbone.

(Elias Aredes Junior)