Uma reflexão sobre erros de imprensa, Guarani e um valor inegociável: a preservação da liberdade de imprensa e de expressão. Sem linchamento!

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Ninguém é bobo ou alienado do planeta Terra para ignorar a onda que surgiu na sexta-feira. Liderado por ex-jogadores do Guarani. Vídeos e mais vídeos foram lançados para reclamar sobre a ausência no Correio Popular de uma nota, uma matéria que fosse a respeito sobre os 110 anos do Guarani.

Essa história tem dois lados.

A primeira é que a reclamação tem razão de ser. Como também já aceitei reclamações direcionados a este Só Dérbi. A opinião pública é a senhora de tudo.

Mas em qualquer país europeu cuja imprensa é regulamentada e fiscalizada tais reclamações são assimiladas com mais serenidade. Na Inglaterra,  em 2011, uma comissão judicial, coordenada pelo juiz Brian Leveson, resolveu analisar a mídia, o que culminou com a criação do Press Recognition Panel, um órgão de autorregulação.

Pelas regras estipuladas, existe o poder de aplicar multas de até um milhão de libras (R$ 4 milhões) às publicações, além de impor direito de resposta e correções a jornais, revistas e site noticiosos.

Lógico, não se enquadra no caso do aniversário de um clube. Longe, muito longe disso. Porém, a instituição deste tipo de regulação e a figura do ombudsman em cada órgão de comunicação serviria como norte para que reclamações se transformassem em instrumentos de aprimoramento e jamais de linchamento, atitude que perigosamente flerta o fenômeno visto na sexta-feira na internet.

Dito isso, existe um lado fundamental. A reclamação pela falta de uma matéria não pode virar motivo de linchamento ou de atitudes incoerentes com a democracia e o estado de direito.

Quem é de Campinas sabe que o Correio tem um novo proprietário e independente de suas decisões serem do meu agrado ou não, ali existe um intenção: ele quer ressuscitar e recolocar a marca dentro da opinião pública campineira e como ator influente. Se o plano for bem sucedido, não há como negar que existe um ganho para a sociedade. Mais vozes, mais visões de mundo, pluralidade construída.

O futebol campineiro teria muito a ganhar. O Correio Popular é protagonista da história do futebol campineiro. Queiram seus reclamantes ou não.

Na década de 1980, por intermédio da Coluna Só Futebol (e de bastidores), o jornal promoveu e projetou muitos destes ex-jogadores que na sexta-feira reclamaram da ausência da matéria do aniversário do Guarani.

Jornal que em sua história já gastou páginas e páginas para falar sobre conquistas e glórias do Guarani Futebol Clubes. Quantos torcedores bugrinos não compraram edições do Correio Popular com o pôster do título de 1978? E a descrição da saga para sair das divisões inferiores? E a cobertura in loco de decisões? Com todos os defeitos e problemas, o Correio Popular é uma peça que divulgou e projetou a própria história do Guarani Futebol Clube. E isso parece ter sido ignorado. Não deveria. Um pecado de um dia não pode apagar um saldo positivo de décadas.

Reflita: vale a pena jogar tudo isso no lixo? Vale a pena abrir espaço em médio e longo prazo para desqualificação e o ódio desmedido contra os veículos de comunicação? A que preço? Com que objetivo?

Reafirmo que a reclamação pela matéria é justa. Não é qualquer dia que um clube completa 110 anos.

Só que é preferível eu respirar por vezes um ar poluído do que deixar de respirar. Uma imprensa falha é incomparavelmente melhor e mais eficiente do que a inexistência da imprensa. Quando isso, a ditadura aparece. E não podemos permitir que ocorra o primeiro passo. Mesmo que seja involuntariamente e por um motivo nobre.

Hoje eu reclamo da falta de aniversário do clube, amanhã eu não aceito uma matéria critica sobre o Guarani e no futuro posso querer pura e simplesmente exterminar o veiculo de comunicação. Nesse dia, será o fim. E a sociedade perderá. De goleada.

(Elias Aredes Junior)