Você já olhou para um prédio concluído? Já observou um carro em movimento? Parou para pensar quantas pessoas são envolvidas neste trabalho anônimo e por vezes não reconhecido? Já detectou empresas de sucesso cujo os executivos não são valorizados? Ou uma cantora que consegue prêmios e mais prêmios. Ela recebe os cumprimentos, mas o produtor musical, aquele que fez tudo acontecer nem é citado. Pois é. A vida é assim. Nem sempre o protagonista detém todas as virtudes. E ás vezes ele carrega alguns defeitos.
Passamos os últimos dias com inúmeros homenagens aos jogadores da Ponte Preta que conseguiram o acesso à Série A-1 do Campeonato. Também foi homenageado o técnico Hélio dos Anjos e o seu filho e auxiliar Guilherme dos Anjos. Elogiamos, com razão, a produção impecável da equipe na parte física e tudo aquilo que foi feito por Anderson Nicolau. Sobrou elogio até para o Departamento Juridico, que conseguiu atenuar as penas dos atacantes Jeh e Pablo Dyego, expulsos nas quartas de final, contra o Comercial, em Ribeirão Preto.
Levantamos para ficar em pé e aplaudir o futebol de Léo Naldi, Felipe Amaral e Matheus Jesus. Todos tiveram seus nomes gritados nas arquibancadas. Pergunto: e o presidente Marco Antonio Eberlin? Esse merece um capítulo à parte.
Assim como retrata a música “Capitão da Indústria”, da banda Paralamas do Sucesso, o atual mandatário da Ponte Preta é um trabalhador silencioso. Acorda cedo, renuncia à família, restringe o contato com os amigos para focar somente na Ponte Preta. Tudo passa por sua mão. Tudo é decidido por ele. Podemos discordar deste método de gestão. Só não podemos discordar de algo inequívoco: é uma pessoa que se entrega ao trabalho as 24 horas do dia.
E não faltou trabalho. Não somente para contratar, montar o time, bancar o treinador nas horas dificiéis e bolar estratégias para trazer o torcedor de volta. Eberlin encarou desafios como bloqueio de contas, impedimento de contratações pela punição do Transferban e uma reclamação aqui e ali nas redes sociais. E pelo menos até agora soube safar-se de tudo. Tudo em nome da Ponte Preta.
Sei que muitos vão torcer o nariz para esta crônica. Eberlin provoca polêmica. Alguns vão dizer que é concessão exagerada diante da sua acidez em relação ao trabalho da imprensa.
Independente do que ocorre do outro lado, o jornalista tem duas missões: a primeira é de fiscalizar o poder e apontar erros e equívocos para evitar que o processo se degringole. Só que temos a tarefa de, quando terminado o processo, realizar uma análise daquilo que deu certo e pode ter continuidade.
Marco Antonio Eberlin conduziu o barco da Ponte Preta até o acesso. Você pode alegar de que ele não fez nada mais que sua obrigação. Concordo. Entretanto, o mundo da bola é traiçoeiro, enigmático, sem sentido e quando se consegue cumprir uma missão isso deve ser evidenciado.
Acompanho futebol há 42 anos. Como profissional de imprensa, entre idas e vindas há 29 anos. Já vi dirigente de tudo quanto é tipo. E quero descrever uma cena. No último sábado, após o jogo contra o XV de Piracicaba, talvez a cena mais natural seria ver Marco Antonio Eberlin no centro do gramado em volta olímpica em busca da consagração da torcida. Eu vi o atual presidente da Ponte Preta em duas oportunidades. Na primeira, quando passou pela sala de imprensa. Depois, na saída, no meio dos seus amigos, como uma pessoa qualquer.
Sem enfeites. Sem confetes. Porque no dia seguinte ele saberia que teria uma tarefa a cumprir na Ponte Preta: trabalhar. Trabalhar. Trabalhar. Que o seu trabalho seja revertido em mais benefícios para a torcida da Ponte Preta. Ela merece. Ele também.
(Elias Aredes Junior com foto de Diego Almeida-Pontepress- Texto reproduzido durante o Brasil Esporte Clube- Rádio Brasil AM 1270)