É tempo de sorriso largo. Época de pranto por uma alegria que há muito tempo não era sentida. A libertação de algo sufocado na alma. Que surgiu sem sentido e vai embora sem deixar saudade. Se você torce pela Ponte Preta sabe exatamente do que falo. Entende o sentido e o sabor das palavras. A humilhação acabou. O olhar mudou. O abraço é dado com carinho, afeto e mansidão. A raiva ficou no passado. A Macaca subiu. Voltou a segunda divisão. Terá em 2026 uma temporada de, no mínimo, 46 jogos. Serão 23 partidas no Majestoso. Com força, dignidade e alento. Objetivo? Isso será visto no futuro. O que importa é comemorar. Sentir a brisa dos vencedores na cara e verificar o norte da vida. Porque quando o futebol fornece subsídios de otimismo, tudo é mais bonito e relevante.
Eu queria pedir um favor aos pontepretanos no topo da pirâmide social. Sim, aos ricos. Você tem todo o direito de celebrar. Só que não há como ignorar: a vida lhe sorri. Quase sempre As portas são abertas. O futebol é um complemento em uma vida de conforto, construída com honestidade, suor e dedicação. A esses pontepretanos o meu respeito.
Eu quero dirigir minha palavra a você, torcedor sofrido, pobre, desvalido. Aquele que conta o dinheiro da passagem para ir trabalhar. Ou que nem trabalha, vitimado por uma sociedade cada vez mais excludente e preconceituosa. Que lhe impõe derrotas. Das mais variadas e doloridas. O bairro sem esgoto, a casa sem reboque, a roupa puida que não pode ser trocada por falta de dinheiro, a ausência de esperança para assistir a um jogo da Macaca. Torcedor que fica na porta do estádio na expectativa que algum irmão de arquibancada lhe dê a entrada do paraíso.
Quero soltar a minha voz para você que acordou a cinco horas da manhã, tomou um café fraco porque não quer deixar os seus filhos sem aquilo que é do bom e do melhor. Você passa fome. Eles comem e vivem. Assim é a vida.
Que pega um ônibus arrebentado, em péssimas condições e com uma passagem extorsiva. Que chega no trabalho e não tem seu talento reconhecido. Destinado a conviver com um chefe tóxico, insensível e preconceituoso. Sim, este texto é para você que vai embora para casa de cabeça baixa. Que olha para seus filhos desesperançado, sem acreditar que o dia pode ser melhor.
Não desista. Erga a cabeça. Hoje é seu dia. Olhe ao combustível da vida: Associação Atlética Ponte Preta. A sua razão para acreditar que não existe fim definitivo. De que possível recuperar-se e acreditar que o impossível acontece. Que a escassez não é sentença definitiva de morte e sim a ressurreição inesperada.
Encarne no seu espirito a festa e o júbilo de um acesso saboroso e redentor. Na imaginação, transforme sua casinha popular em mansão. Imagine a sua mesa com um banquete preparado para convidados que jamais podem ser esquecidos. A força de Diogo Silva no gol. A volúpia de Pacheco. A tenacidade de Saimon e Wanderson. A liderança de Artur. O dinamismo de Luiz Felipe. A força de Léo Oliveira. A técnica, a beleza plástica de Elvis. A superação de Rodrigo Souza. A velocidade e o faro de gol de Jonas Toró. A identidade com as arquibancadas de Jeh. A força de Bruno Lopes. E os Convidados especiais. Neste ambiente acolhedor abrem espaço para novos heróis no gramado e do banco de reservas. Miguel. O garoto Miguel. Jamais sairá de sua retina uma cabeçada empurrada para o gol por mais de 13 mil pontepretanos. Um gol de arrepiar e comemorado por Marcelo Fernandes. O líder e o condutor de um barco que parecia avariado mas chegou ao porto seguro da Série B.
O acesso virou realidade. Não saia desse sonho torcedor pontepretano. Você merece. Muito.
(Elias Aredes Junior)