Na noite de terça-feira, um dirigente do Guarani apareceu na área de comentários do Só Dérbi. Acusou deste jornalista vislumbrar apenas o lado negativo dos fatos. Que nunca enfatizo os acertos. Acredito que após quase 18 meses de existência deste portal muitos dirigentes ainda não aprenderam conceitos básicos do jornalismo e que precisam ser destrinchados. Como estou revestido de paciência e didatismo vamos elucidar alguns pontos não só para ele, mas aos dirigentes do futebol campineiro, estejam eles envolvidos ou não com o futebol profissional.
1-A missão: Este portal nasceu com a meta de enfocar os fatos de Ponte Preta e Guarani, abrir espaço aos comentários dos torcedores e fazer análise não só do que ocorre no gramado, como também dos bastidores. E com a meta de analisar e noticiar aquilo que é necessário e não aquilo que é da vontade dos dirigentes.
2- Cada um no seu lugar: Produtos jornalísticos não devem jamais enveredar pelo caminho da bajulação ou do elogio fácil. Deixa de ser jornalismo e passa a ser relações públicas. Ou propaganda. Com todos os elogios a serem direcionados a quem pratica tais ofícios. Eles tem seu valor. Jornalismo, no entanto, percorre um caminho diferente. Se outros abraçam outro conceito, só posso lamentar.
3- Obrigação: Se ninguém disse já está na hora de alguém dizer de modo direto aos dirigentes de Ponte Preta e Guarani: vocês não fazem do que a obrigação de reerguerem ou buscarem o avanço dos clubes no cenário nacional para deixa-los no patamar alcançado nas décadas de 1970 e 1980. É só relembrar quando Ponte Preta alcançou diversas finais de campeonato e o Guarani de competições internacionais.
Se houve queda de produtividade é por culpa dos dirigentes e não da torcida ou da parte crítica e independente da imprensa esportiva. Contentar-se com a posição atual de coadjuvante e não buscar fórmulas criativas para formular times competitivos é resignar-se com a mediocridade. O torcedor não merece tal realidade, seja ele pontepretano e bugrino. Merece sim a busca da excelência e da melhoria da infra-estrutura. Campinas está no século passado. E não em comparação aos gigantes e sim a equipes como Criciúma, Coritiba, Atlético-PR, Ceará, entre outros.
4- O desejo de um jornalismo dócil: A verdade nua e crua é que os dirigentes campineiros, os do passado e no presente querem e gostam de um jornalismo esportivo voltado para o entretenimento. Pior: que profissionais de imprensa sejam camaradas, parceiros e aliviem na hora de divulgação da notícia. Este portal não comunga de tal pensamento. E agradeço a Deus por trabalhar na Rádio Central, uma emissora líder de audiência e que prima também pela busca da verdade e com independência.
5- Falta de avanço: De um jeito ou de outro, dirigentes pontepretanos e bugrinos não querem encarar a realidade que é dolorida. A Macaca, queiramos ou não, é administrada há 20 anos pelo mesmo grupo político. Fez coisas boas pela Ponte Preta? Não há dúvida. Mas também errou. Colocou as contas em dia? Não há como negar. No entanto, oportunidades históricas foram perdidas como a modernização do estádio Moisés Lucarelli, o incremento na estrutura do departamento de futebol e a valorização para valer das categorias de base. Pense: qual foi o último grande craque revelado pela Macaca? Digo no âmbito de arrebentar no exterior ou sonhar com Seleção Brasileira. Pois é.
Os dirigentes do Guarani, no entanto, não ficam atrás. O que é o Brinco de Ouro perto de arenas modernas de clubes médios como o Joinville na Série C e do América Mineiro na Série B? Qual a estrutura disponibilizada aos garotos das categorias de base? Vou além: excetuando-se o importante acesso da Série C, qual foi o resultado relevante obtido por essa e outras diretorias bugrinas? Pensem: e vocês querem ser elogiados e reconhecidos? Nem vamos esticar o assunto. Todos os lampejos ocorridos nos últimos anos nos dois clubes, salvo algumas exceções, é mérito da superação dos jogadores e treinadores. Só. A participação de dirigentes estatutários é ínfima. Desta atual fornada então nem se fala. Mediocridade presente.
6-Rivalidade tacanha: Grêmio e Internacional tiram suas rivalidades da sala e costumeiramente fazem ações conjuntas, assim como Coritiba e Atlético Paranaense. Atlético Mineiro e Cruzeiro tem intensa rivalidade, mas possuem canal mínimo de diálogo. Pergunta: como querem reconhecimento se dirigentes bugrinos e pontepretanos não conseguem estabelecer um convívio civilizado? Pior: os dirigentes da atual safra do futebol campineiro comportam-se como torcedores irracionais, com troca de farpas que não levam a nada. Sim, porque uma região metropolitana de 3,3 milhão de habitantes deveria sofrer a invasão das marcas de Ponte Preta e Guarani. Nada disso. O Corinthians domina e não há perspectiva de termos 50 mil sócios adimplentes na somatória dos dois clubes em médio prazo. Pergunto: como querem elogios?Não dá.
7- Reserva de mercado: A paralisia promovida pelos atuais dirigentes pontepretanos e bugrinos e os do passado também é provocado por uma reserva de mercado informal. Executivos de futebol forasteiros não conseguem bons resultados em parte pela cultura provinciana e preconceituosa carregada em clichês como “alma bugrina”, “raiz pontepretana”, entre outras nomenclaturas. Neste percurso perde-se a chance de conviver com profissionais com diversas experiências de vida, acadêmica e das novas concepções do mundo da bola. A ciência entrou em definitivo na modalidade, assim como a transformação de clubes em marcas de massa. Renegam tudo isso em nome de uma tradição vazia e uma prepotência injustificável. Afinal, compare o desempenho dos dois clubes nos últimos 20 anos e veremos que existe muito mais motivo para vergonha do que para orgulho. Só não vê quem não quer.
Infelizmente, tanto os dirigentes pontepretanos como bugrinos acham que se bastam. Não precisam do auxilio e da ajuda de ninguém. Só os campineiros de raiz devem ser ouvidos. Isso apesar das diversas colônias existentes em Campinas.
Ao contrário dos dirigentes engravatados, aburguesados, portadores de carros importados e de bons modos eu e meu companheiro Julio Nascimento somos um produto da arquibancada e da cultura futebolística. Antes de ser jornalista, eu fui torcedor. E acompanhei o sofrimento de amigos bugrinos e pontepretanos diante de tanta incompetência. Ineficiência que gerou rebaixamentos tanto no Brinco de Ouro como no Moisés Lucarelli. Hoje estou na cabine. Mas sou essencialmente uma pessoa de arquibancada. E quando minha missão acabar eu não estarei sentado ao lado de poderosos. Estarei sim, ao lado do povo em um estádio qualquer do Brasil. Porque o futebol é do povo. Para sempre. Vocês, dirigentes, estão no olimpo apenas de favor. Trabalhem e melhorem ao invés de utilizarem o poder que vocês têm de modo maléfico e equivocado.
(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)