Análise: vale a pena instalar clima de pânico na Ponte Preta?

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A cada derrota ou empate inesperado, o ritual é idêntico: uma parte da torcida da Ponte Preta fica em frente do computador, acessa o Facebook e reclama de tudo e de todos . Se ele não tiver inscrição na rede social mais famosa do mundo, este pontepretano pega o celular e envia mensagens seguidas aos programas de rádio esportivo de Campinas.

Resultado: o ambiente fica insuportável, a instabilidade vira parceira e no afã de agradar as arquibancadas virtuais e reais, a diretoria pontepretana mete os pés pelas mãos e toma medidas que por vezes colaboram para o abismo virar realidade.

Interessante observar que tal fenômeno abre mão da razão, ponderação e de um mínimo percentual de análise. Pegue a derrota para o Grêmio e chegará a conclusão que cada um dos argumentos enumerados por parte dos torcedores da Macaca não se sustenta em pé. É um castelo de cartas, mas com uma quantidade de gasolina suficiente para destruir aquilo que está ao redor.

Time retrancado?

Este modelo de torcedor pontepretano defendeu que o time jogou voluntariamente atrás contra o Grêmio. Será? Não podemos ignorar que nos minutos iniciais na Arena de Porto Alegre, uma marcação no campo ofensivo era conduzida por Clayson, Cristian e Wellington Paulista. Atrapalhar a saída de bola do zagueiro Wallace era a meta. Deu certo? Em parte sim, porque o Grêmio demorou para entrar no jogo e criar seguidas chances de gol por intermédio de Luan e Douglas.

Não há como negar que a expulsão de Clayson mudou a configuração. Tirou um jogador ofensivo e talhado ao contra-ataque. O que dizer então da entrada de Nino Paraíba, não como lateral e sim como um jogador posicionado na meia direita, no campo ofensivo, pronto para puxar o contra-ataque? Isso não é ser ofensivo? Pense, reflita.

Banco de reservas desfalcado

Em determinada passagem do jogo, para compensar a ausência do jogador expulso, a Alvinegra fez as clássicas duas linhas com quatro jogadores. O que faltou então para dar certo e dar o bote fatal no contra-ataque? Simples: um banco de reservas com opções. Nesse aspecto, é preciso esclarecer: Willam Pottker, Roger e Felipe Azevedo, atletas talhados para jogadas de força e velocidade, não atuaram por estarem lesionados. Felipe Menezes e Thiago Galhardo, presentes como alternativas, são jogadores mais cadenciados e não tem a característica exigida. E relembre a dificuldade sofrida por Cristian para adaptar-se ao jogo intenso imposto pelos gremistas.

Utilizar os laterais? De que maneira se levarmos em conta que Reinaldo estava enrolado com os avanços de Edilson e Luan e Jeferson claramente não tem aptidões ofensivas? Eduardo Baptista não foi covarde ou retranqueiro. Fez aquilo que era possível. Exigir mais naquela conjuntura é de uma crueldade sem tamanho.

Análise da Tabela

Este trecho do Brasileirão exige ponderação por parte do torcedor da Macaca até para entender como a tabela atrapalha a dinâmica da competição. Nas seis primeiras rodadas, a Ponte Preta já enfrentou três dos atuais integrantes do G-4 (Corinthians, Grêmio e Palmeiras). E as duas derrotas foram no campo do oponente, o que deve ser encarado com naturalidade.

A prioridade deve ser colher pontos contra times médios e pequenos. Neste requisito, não há do que reclamar. Apesar dos vacilos contra o Figueirense, colher um ponto fora de casa é satisfatório. Já a vitória contra o América Mineiro no estádio Independência foi preponderante para o time fugir da degola momentaneamente. Por isso, somar seis pontos diante de Chapecoense deve ser colocado como prioritário. Se ocorrer algum tropeço, a cobrança será inevitável. E justa.

Anteriormente, pontos perdidos devem ser lamentados? A estreia para o Figueirense sim, especialmente pelo volume de oportunidades perdidas. Em contrapartida, o duelo contra o Flamengo foi parelho e disputado até o último minuto. Poderia acontecer qualquer resultado.

Eduardo Baptista precisa de tranquilidade e respaldo e não de pressão

Entender o que ocorre no gramado e no campeonato não é a tarefa única da torcida da Ponte Preta. Assumir a responsabilidade pela chegada e contratação de Eduardo Baptista é passaporte ao clima de sensatez. Ou já esquecemos do procedimento de inquisição detonado contra Vinicius Eutrópio e Alexandre Gallo, que traziam mais descontentamento do que satisfação ás arquibancadas? Um adendo: se por acaso a satisfação de alguns for contemplada e Eduardo Baptista for demitido quem será contratado no seu lugar? Hoje, por exemplo, Baptista está acima de Gilson Kleina em termos de conhecimento tático. Kleina é ótimo treinador, mas a busca por detalhes e o estudo minucioso de cada oponente fazem o atual técnico pontepretano encontrar-se na frente. Vale a pena trocar? Eu acho que não.

Sonhar e exigir com responsabilidade

O torcedor da Ponte Preta tem o direito sim de protestar, reivindicar e exigir melhorias no seu time. Pode e deve sonhar com vaga na Copa Libertadores ou na Sul-Americana. Mas este fã da Macaca tem o dever de entender que o Campeonato Brasileiro tem mais 32 rodadas, conta com times poderosos no aspecto financeiro e a Macaca tem a missão de equilibrar-se para viabilizar um elenco competitivo sem quebrar o clube financeiramente. Ou seja, a razão tem a missão de calibrar a emoção.

Se a postura passional tomar conta do ambiente no Majestoso será a porta aberta ao fracasso e o risco de surpresas negativas. Acredito que isto ninguém quer.

(análise feita por Elias Aredes Junior)