Campinas pode almejar de novo o titulo de Capital do Futebol?

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O Guarani é o novo campeão da Série A-2 do Campeonato Paulista. A Ponte Preta celebrou a conquista do Torneio do Interior. Os resultados por si só podem levar os nostálgicos a imaginarem algo simples e direto: Campinas poderá voltar a ser protagonista no futebol brasileiro e, quem sabe, ser intitulada novamente a “capital do Futebol”. Não custa sonhar diriam alguns.

Dentro do campo, até existem elementos para colaborar com tal tese. O Guarani venceu o Oeste na decisão por 4 a 0 e com estádio lotado. Voltou a fazer um acerto de contas com sua história ao exibir um futebol ofensivo, criativo e destemido. O armador Bruno Nazário, o centroavante Bruno Mendes e o atacante Erik demonstraram, em diversos momentos da competição, uma capacidade ímpar de balançar as redes. Foram 36 gols em 18 jogos. Um assombro. Tudo isso liderado por Umberto Louzer, nomeado às pressas após a saída de Fernando Diniz para o Atlético Paranaense. Temos os elementos de uma história com final feliz.

Diagnóstico semelhante pode ser direcionado a Ponte Preta. A fase eliminatória do Campeonato Paulista foi um desastre e que gerou até demissão do técnico Eduardo Baptista. Ficou com o bafo quente do rebaixamento na nuca até a última rodada. No Torneio do Interior, a Macaca voltou a alegrar o seu torcedor com aquilo que sabe fazer de melhor: revelar talentos. O lateral-direito Emerson, o volante e lateral Jeferson e o atacante Felipe Saraiva fizeram com que a torcida voltasse a sorrir. E o título não poderia vir de maneira melhor, em uma vitória construída por intermédio de um chutaço do lateral-direito Emerson. Golaço. No banco de reservas, antes da chegada de Doriva, a aparição do auxiliar técnico João Brigatti, ex-goleiro revelado pelo clube, forjou a identidade existente nos anos 1970.

Quem chegou até aqui deve pensar: se existem tantos fatores positivos, porque é difícil sonhar com a volta de Campinas como sendo a capital do futebol? O obstáculo encontra-se nos gabinetes.

No Guarani, apesar do pagamento das dívidas trabalhistas, o atual presidente, Palmeron Mendes Filho, já demonstrou inabilidade para lidar com o futebol. Tanto que no ano passado demitiu por telefone o atual técnico da Seleção Feminina, Oswaldo Alvarez, o Vadão, e neste ano, após a saída de Fernando Diniz ao Furacão, disse em alto e bom som nos bastidores: se Umberto Louzer não produzisse em cinco rodadas ele seria demitido. A sorte do treinador é que os jogadores assumiram a bronca.

Na Ponte Preta, vive-se uma dinastia de 21 anos do empresário Sérgio Carnielli. Apesar de afastado pela Justiça, ele é quem dá as diretrizes no Majestoso. Indica e elege presidentes. Algo muito parecido com aquilo vivido no Vasco com Eurico Miranda, no Corinthians com Alberto Dualibi e no Palmeiras com Mustafá Contursi. Não há ideias ou inovações, apenas a discussão de como pagar a dívida de R$ 101 milhões com o empresário. Ou seja, a Ponte Preta fica em segundo plano diante do culto à personalidade.

Os títulos devem ser celebrados pelas duas equipes. Com justiça. Mas não dá para esquecer que, sem gestões democráticas, que respeitem e compreendam o trabalho da imprensa e um profissionalismo de alto nível, será impossível pensar em resultados positivos duradouros, seja na próxima Série B (com dérbi programado no turno inicial para o dia 05 de maio) ou nas competições subsequentes.

(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)

4 Comentários

  1. Não deveria se chamar torneio do interior pois não foi disputado por todos os times do interior. Esse torneio foi muito mal feito pelo Marco Polo Del Nero, no qual este ano “premiou” as duas piores equipes do paulista (excetuando os 2 rebaixados obviamente) para disputar uma final. Não estou desmerecendo a conquista da Ponte , o torcedor tem o direito de comemorar, mas sim dizendo que esse torneio é um “tapa-buraco”, pois regulamento do paulista da A1 é muito mal elaborado e privilegia os grandes da capital. O certo seria fazer 2 grupos, dividindo os 4 grandes (2 em cada grupo) e todos jogando contra todos em turno único, classificando os 2 primeiros colocados de cada grupo para o quadrangular final.

    Enquanto os grandes da capital continuarem sendo favorecidos num campeonato que eles mesmo desprezam, dificilmente Campinas voltará a receber o título de capital do futebol.

    Em tempo, foi muito bonito o acesso do Guarani, voltar à primeira divisão do campeonato paulista depois de muito tempo na A2. A conquista do título é uma retribuição ao torcedor que está sempre presente (lotou o Brinco e outros estádios) e também uma bela despedida para o Fumagalli que abriu mão de muita coisa para jogar no Guarani até o fim de sua carreira. O desafio agora do Guarani é fazer um bom ano e não somente um bom primeiro semestre. Sabemos que é preciso um bom planejamento e bons profissionais para o sucesso. Ter resgatado um pouco do “DNA ofensivo” que existia no passado, anima um pouco.

    Vamos dizer que é um recomeço para as duas equipes.

  2. Deixando a rivalidade e as provocações um pouco de lado, esse modelo atual do Paulistão é simplesmente ridículo, tanto que surgiu inicialmente por causa do calendário mais apertado do futebol nacional em 2014 por causa da Copa do Mundo – e acabou ficando até hoje – sou a favor do modelo antigo com 20 times e todos se enfrentando e disputando a mesma classificação geral.

    Como pontepretano comemorei sim o título do Interior, ainda mais depois de escapar do rebaixamento, não pelo troféu em si mas pela mudança de panorama, sem contar também claro a premiação e a vaga garantida na Copa do Brasil (não que a gente precisasse mas enfim). Tá no regulamento e não deixa de ser uma conquista – pelo menos mais importante do que o título da A2, convenhamos.

    No mais, fico feliz pelo acesso do GFC, o futebol de Campinas não é a mesma coisa sem os dérbis. E torço pra que as duas equipes consigam fazer uma Série B satisfatória, e por que não disputando juntas a parte de cima da tabela, tal qual os dois times de Manchester fizeram nessa temporada da Premier League. Viva o futebol do interior e os torcedores que apesar de todas as dificuldades não se rendem aos times da capital.