Carlo Ancelotti assumiu a Seleção Brasileira. É o novo técnico. Recebeu um tratamento poucas vezes visto para quem sentou no banco de reservas. As análises sobre a sua convocação são positivas. A exclusão de Neymar (justa!), mesmo que temporária, injetou credibilidade na nova Comissão Técnica. O que poucos perceberam é que Ancelotti, sem querer, iniciou a Revolução do Óbvio. Fatos rotineiros esquecidos no futebol nacional. Comportamentos que hoje parecem distantes e sem sentido.
Você pode apontar como cafona ou sem sentido os vídeos em que jogadores históricos do escrete canarinho desejaram sorte ao novo treinador. Ver a emoção contida e de reverência de Ancelotti em relação a quem construiu este passado me fez reavivar a memória dos protagonistas desta história iniciada em 1914 e com cinco títulos mundiais. Só tivemos Pelé e Garrincha porque antes Zizinho eternizou o seu talento. Tostão foi o gênio da bola (hoje das letras), mas para abrir as alas para este mineiro fora de série tivemos gente do naipe de Didi, Zito, Djalma Santos, Vavá e outros que desbravaram os gramados pelo mundo afora.
Bebeto e Romário só ergueram a taça máxima em 1994, nos Estados Unidos, em virtude de talentos como Zico, Sócrates e Junior forjarem um legado para ser perpetuado pelos vencedores de 1994 e 2022. Sem esquecer personagens como Rivelino, Paulo César Caju. A valorização deste patrimônio imaterial tinha sido perdido. Ficamos inebriados por postagens em redes sociais em que jogadores milionários no bolso e pobres de conquistas com a Seleção desfilam por 24 horas o seu rol de feitos materiais. Observar Carlo Ancelotti exibir respeito a história da camisa amarelo é belo. E um aviso para voltar a fazer o óbvio e o justo.
Foi de bom-tom Carlo Ancelotti receber um desejo de boa sorte de Luiz Felipe Scolari e de Carlos Alberto Parreira. É a dupla que esteve no comando do 7 a 1 sobre a Alemanha em 2014? Não há como apagar. Só que tal fato não nos autoriza desprezar dois senhores campeões do mundo. Eles estenderam a mão ao novo treinador. Que não recusou o afeto. Essa troca de gentilezas deveria ser rotineira. Não é. Quantos treinadores, sem um décimo do currículo de Ancelotti, passaram os últimos meses em negação de realidade e com repúdio a presença de profissionais estrangeiros? A postura de Parreira, Felipão e de Ancelotti é aquilo que se espera para a construção de um ambiente saudável e sem ódio.
A entrevista coletiva foi protocolar e sem caneladas. Mas não posso esconder meu alívio ao assistir a uma coletiva de um treinador vitorioso e sem arrogância, prepotência ou em pé de guerra com os jornalistas. Sem estrelismos. Nada de excepcional. Um alento para quem acompanha treinadores brasileiros com postura tóxica perante a opinião pública.
A temperatura poderá subir nos próximos dias, a Seleção Brasileira entrar em péssima fase técnica e Ancelotti ser uma decepção. Isso não apagará os ensinamentos e dividendos apurados nesta apresentação oficial ocorrida no dia 26 de maio de 2025. Carlo Ancelotti provou que a Seleção Brasileira pode ser algo legal, bacana. A equipe pode ser inclusiva e com sua devida valorização financeira e histórica. O óbvio é revolucionário. Só não vê quem não quer.
Artigo escrito por Elias Aredes Junior