Carnielli quer voltar ao exercício do poder. Suscita amor e ódio. O que a Ponte Preta ganha com isso?

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Reportagem publicada na edição desta segunda-feira (11) do jornal Correio Popular descreve um rito para a escolha da nova diretoria da Alvinegra que, em médio prazo, viabilizará o retorno oficial de Sérgio Carnielli à rotina da agremiação.

Afastado desde 2011 por decisão judicial, sua suspensão terminaria, segundo advogados que acompanharam o caso, apenas em 2020, ao se levar em conta o trânsito e julgado da ação, proferida em fevereiro de 2015, de acordo com o registro online do Tribunal de Justiça. Como Vanderlei Pereira é o aliado de primeira hora, no transcorrer do próximo mandato existe a expectativa de retorno do líder político à linha de frente de modo oficial, pois ainda tem influência e determina os rumos do clube. Fato.

Diversas pessoas me procuraram para chamar atenção da matéria. Muito boa, por sinal. E que suscita uma reflexão imediata: por que o retorno de Carnielli cria tanto alarido? O que faz a Macaca ficar rachada, com um ala apaixonada pelo dirigente, enquanto que outra não quer nem ouvir falar no seu nome?

Para entender este fenômeno vou recorrer à história brasileira. Especialmente à política. E vou pegar alguns personagens que explicam, de certa maneira, a relação de amor e ódio vivida por Carnielli.

Faça uma viagem no tempo. Verifique a trajetória de Itamar Franco. Ao cair de para quedas na Presidência da República, após a queda de Fernando Collor, por diversas vezes foi achincalhado e ridicularizado.

Entretanto, gozava da simpatia da opinião pública. Até seus detratores exaltavam seu espírito público. O motivo: entre medidas excêntricas daqui e dali, o mineiro de Juiz de Fora fazia a mea culpa em público. Admitia seus erros sem pestanejar. Exemplo prático: ao menor sinal de corrupção no governo, ele não pensava duas vezes e afastava o auxiliar. Nem que fosse amigo intimo. Resultado: ao sair do governo, Itamar saiu com a imagem até de trapalhão, mas de homem justo, bom e focado no bem comum. E essas foram suas armas até para ser eleito governador de Minas Gerais em 1998.

A cápsula do tempo, entretanto, te leva a uma revisão de um personagem emblemático da história brasileira: Jânio Quadros. Teve um ascensão meteórica como política, pois saiu da suplência de vereador em 1947 para a Presidência da República em 1960. Nestes períodos, teve algo em comum: pouquíssimas entrevistas e um pensamento enigmático até para os inimigos. Cativou multidões e seus militantes consideravam que após a sua renúncia não existiria mais país. Nos diversos livros de história não há um só registro de admissão de erro por parte de Jânio. Nada de mea culpa. Nem de sua renúncia. Zero reflexão. Com essa receita, criou um séquito de fanáticos seguidores e de militantes odiosos. Até hoje. Jânio ficou na história, mas deixou para trás um rastro de ódio. O culto à personalidade, mesmo que inconsciente, sempre traz consequências.

O destino concedeu “N” chances para Carnielli ser mais Itamar e menos Jânio Quadros. Multiplicar ao invés de dividir. Somar e não diminuir.

O resultado está aí: uma possível noticia de sua volta gera êxtase em seus apoiadores e fel e ressentimento nos opositores. Não caia na tentação de dormir. Caso contrário, vai pensar que não estará na Ponte Preta e sim no Brasil do século passado.

(análise de Elias Aredes Junior)