Nestes quase dois anos de existência do Só Dérbi, escrevi inúmeros artigos que mostravam por A mais B que o problema da Ponte Preta era, antes de tudo, político. Ou seja, a falta de interlocução no Conselho Deliberativo e na torcida era produto da falta de diálogo da diretoria executiva e do próprio presidente de honra, Sérgio Carnielli. Os jornalistas componentes deste produto foram combatidos, discriminados e, em última instância, dificuldades para viabilizar a obtenção de informações.
Eis que a realização da reunião do Conselho Deliberativo desta segunda-feira mostra de uma vez por todas que este portal estava correto em sua crítica e diagnóstico. A composição da diretoria e do Conselho Deliberativo comprova de maneira cabal que a Ponte Preta tentará utilizar a política como instrumento de reconstrução. E as chances de êxito são enormes.
Logo de cara, a presidência. Sai Vanderlei Pereira, identificado muito mais como um sócio e aliado de Carnielli, e entrará José Armando Abdalla Junior, com 10 anos de condução do Conselho Deliberativo, sócio desde 1974 e que carrega um sobrenome histórico na Ponte Preta.
Como esquecer Sérgio Abdalla, presidente de 1969 a 1974 e condutor do título da Divisão Especial do Campeonato Paulista de 1969? Ou seja, o seu sobrenome abrirá portas e concederá chance de restabelecer a paz política no clube e com a torcida.
Ao nomear Sebastião Arcanjo como vice-presidente o recado é claro: política na veia. Após atuar por dois mandatos como vereador e também como deputado estadual, o ex-parlamentar adquiriu cancha suficiente para administrar conflitos, viabilizar consensos e buscar o diálogo entre os diferentes. Basta dizer que foi líder de governo do prefeito assassinado Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT. Qual será sua função? Uma que lhe cairia bem seria a de convencer e dialogar com a torcida sobre um pedido de paz em um ano que tem tudo para ser turbulento, com participação na Série B do Brasileiro e perda de mando de jogos. Tiãozinho já tem a alcunha de bombeiro do grupo político de Sérgio Carnielli, pois assumiu a diretoria de futebol após a saída conturbada de Marco Antônio Eberlim do clube em 2006.
O pacote político finaliza com a designação de Tagino dos Santos como presidente do Conselho Deliberativo, um grande calcanhar de Aquiles nos últimos três anos. Sob o comando de Mauro Zuppi, a instância foi palco de denúncias de cerceamento da oposição e lamentos pela falta de debates. Não há expectativa de repetição de filme tão triste.
Com a manutenção de pessoas em seus cargos, fica escancarado que o atual grupo político que comanda a Ponte Preta constatou que um barril de pólvora foi instalado com o rebaixamento e uma eleição com apenas 25% de comparecimento do total de eleitores. Ou modifica a estrutura, o modo de analisar os fatos ou tudo vai pelos ares. Antes tarde do que nunca.
(análise de Elias Aredes Junior)