Conselho Deliberativo da Ponte Preta e a verdade: nós, jornalistas esportivos, não cumprimos nossa parte!

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Quando atuei em uma das emissoras de rádio de Campinas, um componente de equipe defendeu durante todo o ano de 2017 que o torcedor não queria saber dos bastidores dos clubes.

A cada nova denúncia que surgia a respeito dos desmandos de Ponte Preta e Guarani, o mantra era dito: “Esquece. O povo só quer saber de bola. Política é um negócio muito chato”. No caso específico da Ponte Preta, temas não faltavam: a interferência de Sérgio Carnielli no dia a dia do clube, o quadro financeiro vivido pela agremiação, o afastamento do torcedor dos estádios… Os ingredientes eram infinitos. O roteiro era só bola.

Alguns torcedores chiavam nas redes sociais e nada era abordado de modo profundo porque a bola era prioritária. Tenho que ser justo: é uma visão presente em 99% dos jornalistas esportivos do país.

A bola basta.

Falar de escalação, quem está lesionado, quem está suspenso e outras escaramuças não são sobremesa ou aperitivo. Ou como diria o genial Antonio Abujamra: “O jornalismo esportivo brasileiro é como um pássaro preso em uma gaiola e que canta uma melodia afinada, mas muito pobre”.

Quando chegou o final do ano passado e o rebaixamento foi consumado, muitos jornalistas fizeram cara de espanto. “Ah, como poderia acontecer! Estava tudo indo tão bem”. Não estava. Muitos diziam. E nós não queríamos ouvir.

Hoje, quando vejo uma reunião do Conselho Deliberativo provocar convocação nas redes sociais por parte da torcida, eu, como profissional, me sinto muito mal.

Péssimo.

Se a crônica esportiva de Campinas (e eu me incluo) tivesse uma cobertura mais efetiva e crítica, a torcida não precisaria tomar as rédeas. O debate da opinião pública seria conduzido por nós.

Quem deveria comparecer as reuniões e acompanhar as discussões do Conselho seríamos nós, cronistas esportivos.

Quem deveria ficar na linha de frente para apurar e denunciar todo e qualquer deslize das autoridades pontepretanas deveriam ser aqueles que estudaram quatro anos em uma faculdade pública ou privada e passaram a entender que jornalismo não é entretenimento e nem o caminho mais curto para abraçar o poder, mas sim uma prestação de serviço à sociedade.

Jornalista esportivo de Campinas, do Brasil e do mundo deveria entender que cobrir apenas as quatro linhas é algo raso, superficial e não colabora para a melhoria de um clube, especialmente a Ponte Preta.

Dentro de minhas limitações, faço o possível e o impossível para acompanhar os fatos de bastidores.

Este virtual monopólio me entristece. Se toda a categoria entendesse sua força, certamente a Ponte Preta não estaria na atual situação. Devemos ao torcedor. Muito.

(análise feita por Elias Aredes Junior)