Considerações sobre a arbitragem e o prejuízo gerado ao Dérbi 209

0
721 views

Se existe um conceito assassinado no futebol é a verdade. O dicionário define como algo que está conforme a realidade e os fatos. A verdade pode ser doce, dilacerante, incomoda, dolorida ou sofrer distorções. Manipulações que satisfaçam nossos interesses e objetivos.

A verdade sobre aquilo que ocorreu no estádio Moisés Lucarelli, no dia 09 de fevereiro de 2025 é uma só: Raphael Claus errou.  Um erro que foi ainda reforçado pelo VAR, que levou a decisão de expulsar o zagueiro Lucão.

Eu estava no estádio nas tribunas de imprensa. Como Lucão pode ser o último homem se no momento do passe, ele estava a frente de Jean Dias e perfilado com um companheiro de equipe? Como cravar se era perigo de gol se ele ganhou uma disputa na corrida com o zagueiro bugrino? Sem contar que dois defensores do Alviverde estavam um pouco atrás na jogada.

Todo aquele lance seria para, no máximo, uma falta nas proximidades da grande área. E isso não é conceito formado porque o observador é pontepretano, bugrino, petista, bolsonarista, trumpista ou putinista. A análise não é julgamento. É a constatação da verdade. Pura e simples.

Durante toda a segunda-feira, toda sorte de opiniões foram emitidas por árbitros, ex-árbitros. Lógico, o torcedor pontepretano vai puxar sardinha para o seu lado. Eu prefiro ficar com minha constatação: Claus errou. E o Guarani foi prejudicado. E se fosse o contrário, a análise seria a mesma.

Digo que infelizmente, a exposição e a busca da verdade tem sido ausente das discussões e troca de ideias no futebol campineiro. Em nome de paixões infundadas, interesses escusos, medo de retaliações, vende-se e embala-se a verdade segundo o freguês. Pouco importa se a verdade é manipulada. Se eu ganhar lá na frente, eu fico feliz.

O torcedor pontepretano, com razão, comporta-se como uma criança peralta que viu o amiguinho perder a roda da bicicleta e estatelar-se no chão. No final, ela diverte-se com a queda do inimigo intimo e ganha a corrida de rua com facilidade.

Outros preferem aceitar o fato que daqui a 20 anos, ninguém vai lembrar da atuação de Raphael Claus e sim, de que a Ponte Preta venceu por 2 a 0 com mais de 13 mil torcedores.
Bem, o jornalista que honra sua profissão não está aqui para agradar e sim para instigar a reflexão.

Campinas vive uma rivalidade de alta potência. Mas tóxica. Destrutiva. Hoje, a Ponte Preta festeja a vitória e o revés do Guarani na arbitragem. Amanhã o Guarani pode ser beneficiado e vice-versa. Árbitros aparecem, desaparecem e o que sobra são apenas reclamações casuais.

Para quê?

Com qual objetivo?

Dulcídio Wanderley Boschilla destruiu a Ponte Preta na final de 1977. Em fevereiro de 1987, as decisões de José de Assis Aragão modificaram as estradas da final entre São Paulo e Guarani. Foram duas ocasiões em que os rivais se deleitaram em cima da desgraça alheio.

Eu pergunto: e o futebol campineiro? O que ganhou? Eu sei o que perdeu: dois títulos relevantes. Comemoramos a desgraça alheia e somos incapazes de darmos as mãos para sairmos deste atoleiro em que nos encontramos.

Rafael Claus fez um trabalho desastroso no Dérbi 209 e o torcedor bugrino vocifera impropérios nas redes sociais. O torcedor pontepretano comemora e ri da desgraça alheia.

Enquanto isso, muitos torcedores e cronistas esportivos ignoram a nossa verdadeira desgraça: clubes centenários com dívidas monstruosas, cronistas e dirigentes vaidosos, um estádio penhorado (Moisés Lucarelli), outro já entregue a outro proprietário (Brinco de Ouro), e a obrigação de disputar uma terceira divisão nacional. Sendo que no passado a Ponte Preta já foi semifinalista de Campeonato Brasileiro e o Guarani disputou por três vezes a decisão do Brasileiro.

As lambanças de Raphael Claus só tiveram destaque por um único motivo: os dois clubes são figurantes de luxo do futebol brasileiro. Sem representatividade, a pergunta que será feita nos próximos clássicos é saber quem vai apitar o jogo e qual o time será prejudicado em um sistema que não dá a minima para dois simbolos do interior de São Paulo.

(Elias Aredes Junior com foto de Marcos Ribolli-Pontepress)