“(…) O sistema entrega a mão pra salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir. Agora me responda uma coisa, quem você acha que sustenta tudo isso?(…)”
Poucas vezes eu comecei um texto com citações. Não gosto. Há exceções. O que você vê acima é o texto do filme “Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro”. Parte de um depoimento do Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, em uma CPI da Assembléia Legislativa. Coloca tudo para fora. Denuncia os corruptos, aqueles que desejam apenas encher os seus bolsos ou alimentar os seus egos. A única regra para usufruir: deixar o sistema intacto. Sem prejudicar ninguém. Caso contrário, você é expurgado.
Vejo fila imensa de pontepretanos para assistirem ao dérbi de sábado. Como presenciei os 18078 bugrinos que encheram o Brinco de Ouro no dérbi do turno inicial. Penso de imediato que sim, o futebol tem o seu “sistema”.
Que não admite deserções. Cada um no seu papel. O “sistema” não aceita torcedores críticos, capazes de enxergar nos dirigentes protagonistas de trapalhadas e medidas típicas dos incompetentes. A alegria é anestésica, elixir dopante para fugir da realidade.
A podridão, as tramoias, tudo aquilo que é ruim em Ponte Preta e Guarani é colocado para debaixo do tapete. Tudo em nome da alienação, do delírio criado e alimentado pelo “Sistema”.
Mecanismo talhado para domesticar a imprensa esportiva. Não pode ser critica. Não pode ser contundente. Não deve cobrar. Missão de festejar, celebrar, comemorar. Em troca seus protagonistas podem concorrer a fama, dinheiro, poder, fama, sucesso. Nem todos chegam lá. Tudo for feito de maneira correta? Carreira infinita. Quem está fora da cartilha? Quem ousar fazer jornalismo puro? Desprezo, perseguição e isolamento. Às vezes, abre-se uma brecha e encara-se o sistema. Tenta-se burlar suas regras. É bruto. Violento. Sem perdão.
O Só Dérbi vai para mais um jogo que é a razão de existir deste site. Contra maré. Expurgado do sistema. Como um atleta destemperado e ousado, pula no mar da contradição e nada contra o interesse e o foco dos poderosos e até de alguns jornalistas que consideram a criticidade um pecado. Alienar para faturar. Existem profissionais que honram o ofício? Muitos. Existem no rádio, televisão, internet e jornal. Nadam, batalham contra o Sistema.
Outros querem que tudo fique como está. É cômodo. Fácil. “O torcedor que se lixe. Faço um personagem, transformo tudo em um circo e tudo fica lindo”. Não falam. Mas é o que pensam.
Não hesitam em descartarem quem estiver na trajetória. Este autor foi vitima. Teve “companheiro” de profissão que comemorou. Apesar de novato quer entregar a alma ao sistema. Não aprendeu o básico dito por Cláudio Abramo: “O jornalismo é o exercício cotidiano da inteligência e do caráter”. Jornalismo bem feito é inserir-se no sistema e lutar contra suas mazelas. Quase quixotesco. É o que resta.
Começa a contagem regressiva para o derbi. A festa deveria vir acompanhada da reflexão. Não virá. O sistema dopa. Sem perdão.
O Só Dérbi não desprezará a festa maior do futebol campineiro. Cobrirá com retidão e profissionalismo. Só não deixará de alertar quem se aproveita das regras do “Sistema” e quer faturar mais e mais e deixa o interesse público em segundo plano. Um dia as máscaras vão cair. E o verdadeiro e autêntico futebol surgirá. Seguimos na luta.
(análise feita por Elias Aredes Junior)