É possível fazer amigos no futebol? Difícil. Só não dá para desistir!

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“Amigos do futebol”. Esta era a expressão que o jornalista Brasil de Oliveira utilizava nas suas transmissões de futebol pela Rádio Educadora e Rádio Central. Ele não se furtava de enaltecer os amigos que tinha.

Os infindáveis papos no Largo do Rosário.

As trocas de ideia com profissionais renomados como Raí, Oswaldo Alvarez, Carlos Alberto Parreira. Seu falecimento em 1996 aos poucos revelou uma outra faceta: a do homem triste, solitário, temeroso de que os amigos fossem apenas fachada. Ou que apenas lhe suportassem.

Quem teve a fama aos seus pés não fica atrás. Castilho, talvez o principal goleiro da história do Fluminense, jogou-se de um edifício para retirar a própria vida. Garrincha, o segundo jogador da história do futebol brasileiro, lutou contra o alcoolismo e viveu seus últimos dias na sarjeta. Atacante do Bangu na década de 1980, Marinho viu o chão ser tirado. Os amigos desapareceram. Em todos os casos, falta de amigos. Ou a escolha de amizades erráticas.

Poderia citar uma série de histórias tristes. Inclusive com jornalistas. Gente que rodou os quatro cantos do mundo com um microfone em punho e de repente, ao viver o flagelo do desemprego, teve que conviver com o esquecimento, o desprezo ou a indiferença de seus próprios companheiros de profissão.

Critico Neymar, Gabriel Jesus e outros pelo rendimento irregular. Por um segundo me coloco no lugar deles. A montanha de dinheiro é acompanhada de ceticismo, desconfiança, tristeza. Quem realmente gosta deles? Quem deseja nutrir uma amizade sem querer nada em troca? A amizade entende-se importar-se pelo semelhante, sem pensar no dinheiro, fama, status ou qualquer sentimento artificial.

Volto ao velho Brasa. Amigos do futebol. Quanto existe de verdade ou de falsidade nesta expressão? Em todos os setores: jogadores, torcida, dirigentes, jornalistas, técnicos.

Quem realmente não coloca o dinheiro, o caráter, a ambição em segundo plano diante da possibilidade de uma amizade genuína? Vou mais longe: a possibilidade de se importar com alguém, de enxergar que uma vida vale muito mais do que as quatro linhas do gramado? Se não for amizade, que não tenha um mínimo de humanidade. Um aceno, uma palavra que seja.

Surgirão pessoas que dirão: mas eu me importo com minha família. Não preciso de amizades no futebol ou em qualquer outro ambiente. Então, tenho uma noticia para você. Seu egoísmo e falta de amor ao semelhante salta pelos poros. No fundo, você só se importa com você. Porque a familia é a extensão do nosso caráter e da nossa alma. Se não ligamos para quem não tem o nosso sangue, uma pena. Não existe empatia.

A dor de uma perda, o fracasso pessoal, a ausência de esperança por vezes só pode ser amenizada com a ajuda e o auxilio de alguém. Que olhe no seu olho. Que não queira nada em troca.

Talvez este seja o problema do futebol atual. Jogadores só pensam em dinheiro e transferências; técnicos no próximo contrato; jornalistas na próxima propaganda e a torcida em vencer, ganhar e triunfar. Nada de sentimento. Nada de amor ao próximo. Extermínio de colocar-se na perspectiva do outro. Isso vai além do estádio, de uma arquibancada. É, antes de tudo, vida.

O futebol foi pensado como jogo. Depois virou instrumento diplomático e ação para fazer amigos. Hoje é uma amiga de moer gente, sonhos e almas. Amigos do futebol? O jeito é jamais desistir. Um dia a gente acha.

(análise feita por Elias Aredes Junior)