Na década de 1990, o Guarani lutou para ficar equiparado entre os grandes. Mesmo com poucos recursos chegou a fases decisivas do Campeonato Brasileiro e do Paulista. E um personagem é emblemático: o ex-ponta esquerda e armador Edu Lima, hoje com 51 anos e residente em Salvador.
Com chute potente na perna esquerda e boa visão de jogo, o atleta, hoje comentarista de futebol, foi o elo de duas gerações. A primeira tinha como Edilson sua principal estrela e apesar da goleada sobre o Palmeiras por 5 a 2 não conseguiu chegar a decisão do torneio estadual de 1992. Dois anos depois, Edu Lima era o “guru” dos garotos Amoroso e Luizão, responsáveis por levar o Guarani ao terceiro lugar do Brasileirão.
Nesta entrevista ao Só Dérbi, o ex-jogador relembra sua trajetória, revela amor pelo clube e lamenta não ter tido resposta ao oferecer ajuda a atual direção do Guarani.
Como foi a história de sua chegada ao Guarani? Que referências você tinha do clube?
Estava no Atlético MG e jogava ao lado do goleiro João Leite que havia atuado no clube anos antes. Ele me deu referencias sobre o clube. A ideia que tinha do Guarani era a de um time campeão brasileiro de 78. Ficou marcado e eu tinha 13 anos. Além do João, conversava muito com o volante Zé Carlos pois trabalhamos juntos na base do Cruzeiro.
Em 1992, o Guarani tinha um time competitivo mas o Parmalat já começava a apoiar o Palmeiras e o São Paulo estava no auge do time que sagrou-se bicampeão da Libertadores e do Mundial. De que forma aquela equipe bugrina conseguia equilibrar-se em relação a esses adversários?
Evidente que os recursos de Palmeiras e São Paulo, na época, eram muito maiores que a nossa. Mas tínhamos uma equipe jovem e com vontade de crescer, além de um grande presidente, o Sr. Luiz Roberto Zini. Não éramos apenas um time. Criamos uma família no Brinco.
Na reta final daquela competição, vocês ganharam de 5 a 2 do Palmeiras, mas não chegaram a decisão? O que faltou?
Faltou maturidade, fomos com muita sede ao pote. Achávamos que poderíamos repetir 78 e queríamos entrar para a história do clube e de Campinas também.
Em 1993, você teve uma rápida passagem pelo Flamengo? Como o retorno ao Guarani foi viabilizado?
Eu pertencia ao Guarani e houve uma oportunidade para trazer o Djalminha ao Bugre e houve um desentendimento entre o Renato Gaúcho e ele. Na época o Sr. Evaristo de Macedo era o técnico do clube e queria minha contratação há algum tempo. As peças se encaixaram e eu fui para o Flamengo. Retornei ao final do compromisso.
Você formou uma ataque de qualidade com Amoroso e Luizão no Brasileirão de 1994. Qual jogo daquela campanha lhe traz as melhores recordações?
Todos os jogos foram importantes na caminhada, mas o que me chamava mais a atenção na nossa equipe era a obediência tática quando jogava. Principalmente, fora de Campinas. Adquirimos respeito dos adversários também com a qualidade técnica e velocidade que colocávamos nos jogos.
Sua última passagem pelo Guarani foi em 1996? Como analisa esta passagem? Foi positiva ou negativa?
Em 96 tive um ano de alegria ao retornar ao clube, havia recebido uma proposta do presidente do grupo Lousano que havia sido o patrocinador Master do Guarani, e que comprou o Paulista de Jundiaí que estava na série A3 do Paulista há 17 anos. O projeto era arrojado e conseguimos levar Galo do Japi à 1 a divisão em 1 ano. A experiência foi genial pois tive a oportunidade de ajudar a diretoria a montar um time experiente e competitivo para subir. Daí retornei ao Guarani para a disputa do Brasileiro e ajudando na formação e criação do time do Guarani. Posso dizer que funcionei mais como gestor dentro do campo do que como jogador. Foi um ano positivo e de aprendizado. Depois fui para a China e em 1998 encerrei a carreira.
Qual foi o melhor técnico com quem trabalhou? E o relacionamento com o ex-presidente Beto Zini? Como era?
Trabalhei com grandes técnicos, Minelli, Osvaldo Brandão, Carlos Alberto Silva, Enio Andrade, Luxemburgo, Abel Braga, Evaristo de Macedo, Didi, entre outros, todos acima da média. Fui disciplinado e obediente e aprendi um pouco com cada um deles. Quanto ao Beto, nossa relação era de amizade e de confiança. Havia um laço de amizade entre as nossas famílias. Ele é o meu padrinho de casamento. Uma pessoa a qual respeito muito e tenho amizade até hoje.
Como explicar a ligação que você estabeleceu com o torcedor bugrino?
A minha ligação com a torcida do Bugre é de muito carinho e respeito. Fico impressionado com o retorno positivo que eles me dão quando posto nas redes sociais algo do tempo de Guarani. Tenho muitos amigos aí. E creio que um dia retorno ao clube, para retribuir este carinho, com um trabalho projetado e sério. Uma coisa que ninguém sabe é que no ano passado vendo a situação que o clube atravessava, fui até Campinas e ao Guarani e me ofereci ao presidente atual para trabalhar pelo clube. Mas infelizmente não houve nem resposta.
Você acompanha o Guarani? Como encara a atual situação do time, na Série A-2 do Paulistão e na Série C do Brasileirão? Há chance de recuperação?
Acompanho sim, claro. Não só eu mas toda a minha família. A situação no momento é boa mas está apenas no início. É preciso encorpar o time não só com garotos da base (eles não estão preparados ainda para tanta responsabilidade) mas com Atletas experientes para que a equipe se equilibre em situações adversas. O foco deve ser de partida para partida. A Série A2 ( eu já joguei) é muito difícil e muito diferente da Série C. Há total chance de recuperação sim. Primeiro blindar o time para evitar que um cenário teoricamente ruim seja criado fora do ambiente de trabalho e dissemine uma falta de confiança dentro do grupo. E a segunda coisa é que o atleta atual do Guarani saiba realmente o peso que tem a camisa do clube. Juntando estes ingredientes creio que em 2 anos o Bugre possa estar de volta a Elite do futebol brasileiro. Para nós seria uma alegria.
(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)