O dia 11 de julho de 1987 representa um marco na história do futebol brasileiro. É o início das dificuldades de Ponte Preta e Guarani para serem protagonistas em nível idêntico das décadas de 1970 e 1980. Nesta data, os 12 gigantes do futebol brasileiro, reunidos no estádio do Morumbi, em São Paulo, decidiram fundar a União dos Grandes Clubes Brasileiros, mais tarde batizado como Clube dos 13. Foram membros fundadores, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional e Bahia.
Se de um lado defendia a tese de que os 12 clubes representavam a preferência de 90% dos torcedores brasileiros por outro era um claro sinal de elitização. Um fato que afetou o futebol campineiro de modo forte e quase irreversível.
Na época, os gigantes decidiram abrir mão do dinheiro referente a um dia de movimento de apostas da Loteria Esportiva para promoverem um campeonato com 13 clubes. O plano inicial era de que em 1988 subiria para 16 a quantidade de componentes. Os outros três integrantes sairiam de um qualificatório disputado pelos outros 19 clubes que participaram do Brasileirão de 1986 e que teve o São Paulo como campeão. “Estamos abrindo mão das verbas da loteria esportiva e vamos custear nossas despesas”, afirmou o então presidente Carlos Miguel Aidar,mandatário do São Paulo e eleito o primeiro presidente do Clube dos 13.
De acordo com os arquivos dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, a reação dos dirigentes campineiros foi imediata. “Eles falam em revolucionar o futebol, mas não conseguem administrar sua crise financeira. O Guarani não deve nada a ninguém”, disse ao Estadão o então vice-presidente do Guarani Ricardo Chuffi. “Temos autosuficiência e recursos para assumirmos as próprias despesas”, afirmou o assessor da presidência da Ponte Preta, Cláudio Rodrigues. Entendem porque este Só Dérbi prega a excelência nos dois clubes. Já foi uma realidade cotidiano e que se perdeu no tempo.
A associação foi instalada e tinha ainda como meta o fim das convocações compulsórias para a Seleção Brasileira, algo que não aconteceu.
A história exibe algumas facetas desta primeira tentativa de elitização. A principal é que ao observar as classificações dos Brasileirões de 1985 e 1986 era clara a perda de espaço dos gigantes e o avanço dos clubes de médio e pequeno porte, que compensavam a disparidade econômica com profissionalismo e boas contratações.
Basta ver os 10 primeiros colocados do Brasileirão de 1985: 1-Coritiba; 2-Bangu; 3- Brasil de Pelotas; 4- Atlético Mineiro; 5- Sport; 6- Ponte Preta; 7- Ceará; 8- Joinville; 9- Flamengo; 10- Internacional (RS).
No ano seguinte, apesar da conquista do tricolor paulista o quadro não se alterou e os grupo de médios e pequenos ainda falavam alto: 1-São Paulo; 2- Guarani; 3-Atlético Mineiro; 4- América (RS); 5-Bahia; 6- Fluminense;7-Cruzeiro; 8- Criciúma;9-Palmeiras;
As duas classificações demonstram um movimento continuo e constante de tomada de espaço dos clubes médios e pequenos do futebol brasileiro. Os gigantes tinham maior torcida, mas as falhas de gestão e o fato dos times médios serem proprietários de categorias de base com fôlego para revelar jogadores faziam com que a disparidade fosse bem amenizada. A solução encontrada na ocasião foi a reforçar o poderio econômico e a concentração de renda por intermédio de acordos com a televisão.
Não podemos esquecer: nas décadas anteriores, o dinheiro proveniente da loteria esportiva era pulverizado para vários participantes. No final das contas, o Clube dos 13 surgiu para que poucos ficassem com muito. O tamanho das torcidas fosse utilizado como álibi.
Guarani e Ponte Preta sentiram este movimento de modo dramático. O Alviverde, vice-campeão do ano anterior precisou disputar o Módulo Amarelo da Copa União e ao sagrar-se vice-campeão em final com o Sport classificou-se para um quadrangular decisivo que deveria reunir Flamengo e Internacional, campeão e vice-campeão do Módulo Verde.
Como os gigantes se recusaram a jogar, o Guarani automaticamente disputou e perdeu a final do Brasileirão para o mesmo Sport e depois obteve classificação á Copa Libertadores. Anos depois, por intermédio da ação política sacramentada pelo José Luis Lourencetti, o Guarani uma vaga no Clube dos 13.
O dinheiro recebido era menor e as discrepâncias de verba já ficavam evidentes, algo que piorou após o rebaixamento na Série A em 2004, as disputas pela Série B em 2005, 2006, 2009, 2011 e 2012 e as estadias na terceirona de 2007 a 2008 e depois de 2013 até o ano passado. Para quem já disputou Copa Libertadores, ter que se contentar com uma cota de R$ 4,1 milhões na Série B é um retrocesso evidente.
Com a Macaca, o quadro foi pior em que lutou por anos e anos na segundona e até na terceira divisão na década de 1990 para conseguir uma vaga em definitivo na divisão de elite, obtida com o vice-campeonato da Série B em 1997. De um jeito ou de outro, bugrinos e pontepretanos, a partir de 1987 sentiram na pele os efeitos nefastos da desigualdade de renda. E que parece não ter hora para acabar.
(reportagem, texto e análise de Elias Aredes Junior)