Especial: Elenco da Seleção Brasileira de 1982 tinha o DNA do futebol campineiro. Por que o legado foi perdido?

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A quarta-feira (5)marca a recordação dos 35 anos da derrota do Brasil para a Itália no estádio Sarriá, em Barcelona. Copa do Mundo. Designado como o arquiteto de um esquadrão inesquecível, Telê Santana formulou conceitos e metodologias que nunca mais foram repetidos: o toque de bola, os volantes com poder de criação em detrimento da marcação (Cerezo e Falcão), armadores geniais (Zico e Sócrates) e um atacante com poder de finalização portentoso, Éder Aleixo.

Nas laterais, a genialidade prevalecia com o domínio refinado de Leandro e a volúpia de Júnior, o popular Capacete. O que pouca gente reconhece é que o elenco de 22 jogadores tinha o DNA do futebol campineiro. Dos 22 convocados, 5 (22,72% do total) ou estavam em Campinas ou tinham sido revelados por Ponte Preta e Guarani.

Dos três goleiros convocados, dois foram forjados pela Ponte Preta: Waldir Peres, o titular e Carlos Ganso, um dos reservas. A zaga tinha a presença de uma joia chamada Oscar, revelado pela Macaca, com passagem no Cosmos e que na ocasião defendia o São Paulo. Juninho, por sua vez, ainda envergava a camisa 3 da Alvinegra campineira.

No meio-campo, Renato, projetado pelo Guarani,  era o reserva imediato. Um prêmio e tanto se levarmos em conta a qualidade dos titulares Zico e Sócrates.

A derrota por 3 a 2 e os gols de Paulo Rossi representaram a derrota de uma forma de jogar futebol. A ênfase na técnica e na habilidade e no fator individual. Prevaleceu a força física, a velocidade e a disciplina tática. Se pensarmos com cuidado, o futebol campineiro pagou o seu saldo negativo.

Até 1982, tanto bugrinos como pontepretanos eram orgulhosos das duas equipes não só pelos resultados e pela produtividade. Coincidência ou não, aos poucos, tanto no Brinco de Ouro como no Majestoso, a técnica foi substituída por uma parte das regras da cartilha italiana e pela busca de um novo perfil: a busca de jogadores que queiram aparecer no mercado e não a revelação de talentos a partir das categorias de base. Sim, as equipes pontepretanas e bugrinas que foram montadas a partir dali tinham jogadores revelados na base (Evair, João Paulo, Amoroso, Rodrigo, Luis Fabiano, André Cruz), mas não se constituíam mais a maioria.

O escrete canarinho derrotado na Espanha é uma ferida sem cicatrização na alma do torcedor brasileiro. De quebra, ali começou o processo que tirou o protagonismo do futebol campineiro e lhe transformou em coadjuvante.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

 

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