Há tempos desejava escrever este post. Ir além das reclamações sobre a agressividade na área de comentários do portal e também do Facebook. Neste domingo, dia 01, surgiu a chance. Esqueça, o que devia ter sido feito já foi. Os comentários dotados de falta de educação, com alta dose de grosseria e verborragia foram banidos, tanto da matéria sobre Brigatti como na homenagem às bugrinas Cristina Massotti e Tânia Regina.
Outros surgirão. E no que depender da conjuntura, também serão apagados. E por que devem ser? Em primeiro lugar porque artigos devem ser comentados com uma premissa básica: argumentos. Você pode discordar, achar equivocado, mas apresentar conteúdo.
Durante boa parte do tempo, em 90% dos casos, eu me calei. Muitos profissionais de rádio me aconselhavam a não retrucar o ouvinte e o internauta porque ele “sempre tem razão”. Em boa parte de outros veículos em que atuei a recomendação foi na mesma linha. Pois bem. Ao verificar o baixo nível de alguns comentários na tarde de hoje, pensei o seguinte: será que esta minha confortável omissão não esconde a minha função que é a de ajudar na melhoria da sociedade?
Explico: muitas pessoas defendem que educação não tem tanto peso. Que vivência é fundamental para uma pessoa triunfar. Pois eu digo o contrário. Você vir de famílias estruturadas, frequentar boas escolas, ter contato com professores cultos e educados lhe prepara para conviver em sociedade. Respeitar e ser respeitado. Escrevo para vocês porque me dediquei e me dedico. Sei o quanto a educação pode transformar uma pessoa.
Os comentários esdrúxulos e grosseiros visto neste espaço no Só Dérbi é sintoma de um país falido. Um país com sistema educacional destroçado, com conteúdo pedagógico falho e que não provoca reflexão. Um país que não estimula a leitura, a análise e a escrita. Que abraça a violência verbal e física como matéria prima. Não há valorização pela busca da informação e conhecimento. Pior: somos ensinados a valorizar o senso comum, as frases feitas. Por que? Por que é confortável, não provoca e não traz dissabores. Porque pensar dói. Refletir é uma doença para muitos.
O futebol é um reflexo da sociedade. Somos incapazes de entender o futebol como fenômeno social. Temos a incompetência inata em deixar passar como um clube de futebol pode interferir em uma sociedade. O que nos conforta? Só saber quem jogou, quem treinou, entre outros pontos. Vou além: temos uma visão infantil com nossos ídolos. Em Campinas não é diferente.
Por meses e meses este jornalista apanhou por criticas dirigidas a Fumagalli. Agora, as balas verbais ocorrem porque ouso apontar equívocos de João Brigatti. Não são super heróis. São humanos. Falhos. Assim como eu, você, qualquer um.
Deveria ficar acabrunhado. Não estou. Porque estas reações são apenas constatações de uma população condenada a viver por vezes na alienação, na ignorância e na ausência de profundidade. Não porque ela queira. Mas porque ela é conduzida a tal estado de coisas.
Exemplo prático: na chegada dos jogadores aos estádios sempre vemos os atletas com fone de ouvido e mochila nas costas. Quando algum jogador desembarcou com um livro na mão? Cada brasileiro lê em média 4 livros por ano. Compare como nações desenvolvidas encaram a Copa do Mundo e como entendemos a competição. Será que nossa falta de cultura, lastro e amplitude do saber não colabora? Eu tenho certeza que sim.
Como podemos exigir de nós, cronistas e torcedores debates em alto nível e discordância com conteúdo se a própria sabedoria é desprezada no futebol?
Não posso pedir melhoria de nível dos argumentos de alguns internautas. Nem que parem de falar palavrões ou termos grosseiros. Esforço inútil. Esta realidade só vai mudar tanto neste portal como em outros sites quando o Brasil entender que cada pessoa pode ser uma ilha de conhecimento. E que o respeito pode e deve ser matéria prima. Enquanto isso, não acontecer o ódio, o ressentimento, a grosseria e a falta de modos continuarão sendo aquilo que alguns podem oferecer para mudar a situação do seu time, da cidade, do estado e do país. Convenhamos: viver tudo isso é muito triste.
(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)