Especial: quais os erros que nós, jornalistas esportivos, cometemos na cobertura diária da Ponte Preta?

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Desde o dia 09 de setembro de 1996, a Ponte Preta vive sob o comando do empresário Sérgio Carnielli. Apesar de encontrar-se afastado do poder, é de conhecimento de todos a sua influência nas principais decisões do clube.

Neste período, a agremiação viveu dissabores, derrotas, vitórias e imprevistos. Conviveu com o peso de buscar um título e com os escassos recursos financeiros. É de se perguntar sobre o comportamento da imprensa neste período. Foi o correto? Adequado? Teve a abordagem que todos esperavam? Tenho dificuldade em encontrar um cenário positivo. Os erros são diversos. No qual eu me incluo. Sem pestanejar. Sem a autocrítica é impossível avançar.

Em sociedades modernas e democráticas, seja qual for o setor, é função da imprensa retratar os fatos do presente, montar cenários do futuro e ser a bussola necessária para resgatar o passado. Deve deixar o revanchismo e a segregação de lado. Apesar da resistência dos donos dos veículos de comunicação, Getúlio Vargas sempre é recordado como uma referência na história política do país e na construção do seu legado.

Pois eis que nós, cronistas esportivos campineiros, cometemos o desatino de editar a história da Ponte Preta. Apagar personagens que, mesmo para o bem ou mal, foram protagonistas em determinada época  e deveriam ser relembrados. E até entrevistados para darem a sua versão dos fatos. Não, não é uma postura deliberada, maliciosa ou maldosa dos profissionais de imprensa. É apenas uma falha crônica de uma imprensa que só olha para o presente. Só analisa resultados e parece ser incapaz de formular raciocínios e pautas que tragam novos olhares. E eu estou neste balaio ingrato.

O primeiro personagem “apagado” pela imprensa campineira é o ex-presidente Nivaldo Baldo. Sua gestão foi conturbada? Algumas decisões eram intempestivas? A resposta é sim para todas as perguntas. Nestes 22 anos após a sua saída, mesmo sendo empresário de um jogador como Amoroso, o tema de sua incursão política foi sumariamente esquecido pelos veículos de comunicação. Inclusive por este Só Dérbi, que poucas vezes citou seu nome. Erro crasso. Ele merece ser ouvido.

O que dizer então do ex-diretor e vice-presidente de futebol, Marco Antonio Eberlim? Rompido com o atual presidente de honra, o por vezes irascível ex-dirigente dirigiu o futebol da Ponte Preta de 1997 a 2006 e sob o seu comando a Macaca não sentiu o gosto do rebaixamento. Nem mesmo no ano de 2003, quando os atrasos de salários viraram rotina na Ponte Preta. Pergunta: nas vezes em que a Ponte Preta esteve ameaçada ou até consumou sua queda, será que uma entrevista com ele não acrescentaria? Não forneceria subsídios? Apesar do seu perfil por vezes autoritário, os seus resultados são evidentes.

Também é inadmissível o que realizamos com Márcio Della Volpe. Alguns podem alegar: “Ah, mas ele tem acusações sérias contra si”. Que seja julgado e punido se for comprovada a culpa. Mas a imprensa não é juiz. Ela retrata fatos. E neste caso, como ignorar um dirigente responsável por dois acessos de âmbito nacional (Séries B de 2011 e 2014) e condutor no vice-campeonato da Sul-Americana, a grande aventura da história da Ponte Preta? Pois é.

Se não bastassem tais problemas ainda precisamos conviver com nossas falhas e equívocos no tratamento com o futebol. Focamos apenas no resultado e não no trabalho. Tal equívoco é tamanho que ainda existiu gente que contestou a demissão de Alexandre Gallo após o Paulistão de 2016. Argumento? O aproveitamento, acima de 60%. Só que a equipe não tinha padrão de jogo, nenhuma jogada ensaiada, posicionamento equivocado e poder ofensivo e defensivo sem o equilíbrio. Sua demissão foi um dos poucos acertos da gestão de Gustavo Bueno. Que por outro lado também pecou por ignorar o rendimento abaixo da critica da equipe como visitante no Brasileirão de 2016 sob o comando de Eduardo Baptista.

Se em casa a Ponte Preta-2016 era ofensiva, marcava em cima, exibia velocidade e era destemida, o quadro era invertido como visitante. De certa forma, apesar de suas fragilidades, a filosofia equivocada de Eduardo Baptista ajudou a levar o time ao abismo. Será que não faltou esmiuçar ainda mais o seu trabalho na primeira passagem? Será que se os treinos fossem abertos, os repórteres não teriam mais subsídios para apontar as fissuras existentes no trabalho? Tal impedimento não pode fazer todos esquecerem a autocrítica e admitir o básico: falhamos na cobertura e na abordagem.

A predileção da torcida por João Brigatti não pode fazer a crônica esportiva campineira cair no mesmo erro. É preciso discutir, debater e aprofundar sobre o resultado, mas sobre a metodologia de trabalho do ex-goleiro pontepretano.

Temos e devemos cumprir nosso papel. É um compromisso histórico. Que, por vezes, inconscientemente, deixamos de lado. Isso não pode continuar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)