Na entrevista coletiva concedida após a classificação para a decisão do Torneio do Interior, o técnico Fábio Moreno reforçou que não se incomoda com o tom virulento das criticas feitas nas redes sociais e por segmentos da imprensa. Uma declaração, entretanto, chamou a atenção e merece destaque.
Ele disse: “A gente sabe que a torcida e a imprensa são mais passionais, que quando o time não vence, as cobranças vêm e muitas vezes são merecidas. A gente assimila e procura trabalhar para melhorar. Quando as coisas começam a caminhar, a melhorar os resultados, com certeza o apoio da torcida vai vir, de toda a imprensa, e tudo vai evoluindo da melhor maneira possível”, afirmou.
No dicionário Houaiss, a definição de passional está enquadrada como sentimento de amor ardente. Outros textos definem a expressão como sinônimo de amor irracional. Sempre me dizem que devemos compreender que torcedor é passional, ou seja desprovido de razão. Se esticarmos o conceito para os jornalistas esportivos, é lógico que não há qualquer sentido. Espirito critico, capacidade de analise, postura fiscalizadora e humildade para aprender são requisitos básicos. Fica a pergunta: a imprensa é passional com Fábio Moreno?
Dou metade de razão ao treinador pontepretano. Infelizmente, por costume, procedimento e cultura, muitos cronistas esportivos em Campinas e no Brasil consideram que conseguem inserção, audiência e influência sendo um torcedor com um microfone na mão. Repito: isso encontra-se em todos os lugares do Brasil. E está equivocado. Jornalismo esportivo é um ramo como qualquer outro do jornalista e merece a mesma atenção e capacidade analítica de outras editorias.
Interessante é que existe um desprezo de vários cronistas esportivos pela formação acadêmica e a técnica jornalística. Para eles, os jornalistas esportivos que levam a profissão a sério se constituem em uma figura menor. Dispensável. Evidente que essa paixão exacerbada traz prejuízos e distorção de análise. Da profissão e do objeto de cobertura.
Fábio Moreno é prejudicado e beneficiado por tal passionalidade. Prejudicado porque a conexão da torcida com alguns cronistas é tamanha que cria um ambiente insuportável quando exercem a pressão para demitir. Só que muito cronista esportivo em Campinas que torce para a Ponte Preta (sim, jornalistas torcem!), pensam que defender Fábio Moreno é de certa forma preservar o espirito pontepretano. A verdade é que muitos personagens do futebol, sejam eles dirigentes, jogadores e técnicos se beneficiam desta inversão de valores que invadiu a imprensa esportiva brasileira e da qual Campinas não está livre. Infelizmente.
(Elias Aredes Junior)