Era um dia de sol. Domingo. O calendário marcava: jogo no Brinco de Ouro. Adversário? Pouco importa. Seja homem, mulher, criança. Ao abrir o olho, o espirito já pulsava.
Angustia, agonia, tensão, falta de rumo. Tudo porque a bola não rolou. O almoço era feito ás pressas. Quando o relógio marca 13h ou 14h, um ritual espalhava-se pelos bairros e ruas de campinas. Alguns enrolavam as bandeiras no corpo, colocava a camisa no peito. Ato imediato era a formação da carona coletiva; outros pegavam o ônibus. Para quem tinha a grana curta e o amor imenso, a saída era única: andar a pé.
Uma promissão. Um ato de fé pelas ruas de Campinas. Pés que desembocavam na rua defronte ao portal principal do estádio Brinco de Ouro. Ali não existia apenas a compra desenfreada de ingressos ou a pressa em passar pela catraca.
A necessidade era do encontro. Do abraço, do toque, da confraternização, do riso fácil, do olho no olho com a certeza da conexão proporcionada por uma camisa campeã. Gente espalhada pelas ruas, congestionamento, buzinaço. Família. Em todos os sentidos.
Após os 90 minutos, independente do resultado, a despedida com o coração acalentado sobre a certeza do reencontro. Sentimento indo além de um gol de Djaminha, Amoroso, Careca, Jorge Mendonça, Zenon. Tardes e noites transmitidas de pai para filho, de mãe para rebentos, de amigos para amigos. Corrente inquebrantável.
Comemorar o aniversário de 110 anos do Guarani não significa o monopólio da celebração de uma trajetória de glórias e vitórias. Ou a ostentação da construção de um patrimônio. Concreto com valor dá status. Troféu na galeria proporciona orgulho.
Isso é pouco, quase nada, diante da capacidade de um clube em provocar sentimentos profundos como compaixão, amizade, companheirismo, solidariedade. Isso é o Guarani.
O mundo está abalado pela pandemia do coronavirus. Bugrinos e bugrinas já foram vitimados por este vírus letal. Os encontros não são mais permitidos nas imediações do Brinco de Ouro. O isolamento social é um ato de amor ao próximo. Comemorar um gol em casa é colocar um tijolo na esperança intransponível formado por uma arquibancada virtual incapaz de desistir.
O torcedor bugrino pode e deve fazer sua parte. Tomar os cuidados e evitar atitudes temerárias quando for trabalhar. O vírus não pode vencer no campeonato pela vida.
O dia em que a pandemia virar passado o reencontro pessoal da torcida proporcionará vigor, recomeço e força para um clube que sabe da força e do poder de sua torcida. Que o próximo aniversário seja comemorado em harmonia e com esperança no horizonte. A torcida do Guarani merece este presente.
(Elias Aredes Junior)