Ingressos baratos e arquibancadas vazias no Paulistão. Como explicar a fuga de bugrinos e pontepretanos?

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O site  Jornal Lance publicou na terça-feira uma reportagem sobre o ranking do Campeonato Paulista e os dados de Ponte Preta e Guarani chamam atenção por exibirem dados contraditórios. Se por um lado exibiram ingressos baratos e acessíveis as médias de público foram decepcionantes.

O Guarani em suas 14 partidas teve média de 2904 pagantes por jogo e com ingresso médio de R$ 21,66. Na Ponte Preta, o resultado foi de 4387 torcedores por jogo e com valor de R$ 25,32.

Os números demonstram que o futebol de Campinas está longe de ser elitizado. Ponto para os dirigentes. Basta dizer que o bilhete para assistir a qualquer jogo do Corinthians teve o valor de R$ 55,94.

Por que os dois times não comovem suas torcidas? Seca de resultados ou equipes ruins não explicam. A Macaca disputou final de Paulistão em 2017 e o Guarani sagrou-se campeão da Série A-2 em 2018. Ou seja, aos trancos e barrancos a projeção foi obtida. Repito a pergunta: o que ocorre?

Busco uma explicação não nos chavões de falta de segurança, estádios defasados ou equipes modestas. Se isso fosse verdade, o Botafogo de Ribeirão Preto teria performance semelhante. Teve média de 5.181 pagantes. E ali o ingresso deu resultado, pois o valor ficou em 15,43. Melhor que o futebol campineiro. Fato. E outro detalhe: Ribeirão Preto tem 694.534 habitantes. Quer outro dado para gerar preocupação? A Ferroviária teve média de público de 4.589 pagantes no Paulistão e com ingresso médio de R$ 46,41. E ficou com resultado melhor que bugrinos e pontepretanos nas arquibancadas. Araraquara é uma cidade de 233.744 habitantes de acordo com o IBGE. Campinas está com 1.194.094 habitantes. Como aceitar passivamente tal quadro dramático? Não dá.

O principal entrave é algo que passa despercebido por dirigentes: a perda do sentido de comunidade. Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, Guarani e Ponte Preta eram integrantes da identidade da cidade de Campinas. Quem não torcia por um, torcia para outro. Era um Grenal do interior paulista, na rivalidade e mobilização. Mais: vários torcedores participavam da vida do clube, de suas esferas políticas e interferiram nos destinos de cada agremiação.

A perda de identidade começou a surgiu quando os clubes não se prepararam para a transição de equipes sediadas em uma cidade de médio porte para uma grande metrópole, com suas virtudes e defeitos. Não souberam captar os novos torcedores, esses entregues ou aos times da capital paulista e Baixada Santista ou para equipes estrangeiras. Veja: em 2003, para ver a Ponte Preta escapar do rebaixamento, a Macaca atraiu quase 20 mil pagantes. Em 2005, um jogo contra o Avaí atraiu 30 mil bugrinos ao Brinco de Ouro. Hoje, só vemos esses públicos relevantes no clássico local. Caso contrário, nada disso.

Vivemos uma época de um futebol cada vez profissional. Negócio. Que ao mesmo tempo requisita que clubes de pequeno e médio porte tenham sua identificação e perfil junto as  suas cidades. Este é o desafio para dirigentes bugrinos e pontepretanos. Caso contrário, o quadro vai definhar-se a olhos vistos. E não seria nada agradável.

(Elias Aredes Junior)