Jogos da Série A e C são suspensos por causa da Covid-19. Como justificar a realização de CSA x Guarani?

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Vamos fazer uma pequena viagem no tempo. Sem escalas.

No dia 16 de março, o dérbi 196 estava marcado para o estádio Brinco de Ouro. Na ocasião, o Conselho de Administração do Guarani tentou entrar na Justiça Comum para derrubar a proibição de público determinada pelo Ministério Público, que já se precavia contra a proliferação da Covid-19.

Hoje, quase cinco meses depois, vemos a cidade de Campinas envolvida na pandemia, com 21196 casos confirmados e 807 óbitos.

Perguntar não ofende: o que teria ocorrido com a cidade se tivéssemos 18 mil pessoas naquele dia 16 de março no Brinco de Ouro? Não diga que não dá para saber. A Espanha e Itália fizeram jogos no início da contaminação e pagaram um alto preço. Detalhe: uma única pessoa pode transmitir para outras seis. Pense se tivéssemos, por exemplo, 100 pessoas assintomáticas dentro do estádio. Só imagine.

Eis que estamos em agosto com mais de três milhões de casos e 100 mil mortos e o futebol retorna. A promessa era que tudo seria feito para garantir a segurança dos jogadores, integrantes da comissão técnica e jornalistas. A promessa cai por terra na primeira rodada das Séries A,B e C do Brasileirão.

Dez jogadores do Goiás deram resultado positivo antes do jogo contra o São Paulo e foram afastados. Jogo suspenso graças a uma medida do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Medida aprovada pelo São Paulo.

Na Série C, o Imperatriz teve 12 dos seus 19 atletas com resultado de Covid-19 antes do confronto com o Treze (PB). Duelo também cancelado.

Na Série B, a história foi diferente. O  CSA teve oito jogadores positivados. E o jogo aconteceu. Normalmente. E o Guarani perdeu na bola.

Não quero discutir parte esportiva. Importa algo muito maior: a vida.

Primeiro, às consequências do Guarani ter entrado em campo diante de uma equipe com atletas que estavam com Covid-19. Os atletas foram afastados? É verdade. Mas também é verdadeiro que aqueles com amostra negativa também devem ser monitorados. Porque podem ser vetores da doença e sem saber.

Resultado: os jogadores bugrinos também se podem virar potenciais infectantes. Quem diz isso não sou eu, mas o médico e professor de epidemiologia da USP, Paulo Lotufo, em entrevista concedida ao UOL. A declaração não poderia ser mais clara: “”Se os jogadores do CSA testaram positivo mesmo de forma assintomática podemos dizer sem dúvida que quem teve contato com eles estão em risco. A CBF deveria ter adiado as partidas de CSA e CRB como fizeram ao afastar o árbitro. Agora são considerados focos da doença”, encerrou o médido.

Justiça seja feita: o presidente do CSA tentou adiar o jogo, mas não foi atendido pela CBF porque as delegações estavam nos hotéis. Mas o quadro era idêntico em Goiânia e a partida foi adiada.

Independente do quadro, algumas perguntas devem ser respondidas de modo urgente pelo Conselho de Administração do Guarani. O que será feito a partir de agora? Os jogadores serão monitorados de modo mais intenso? E o jogo contra o Cruzeiro? O que pode ser feito se vários jogadores derem resultado positivo? E se for daqui alguns dias? Qual será o protocolo? Se os jogadores do CSA deram resultado positivo, o Guarani tentou adiar o jogo? Se não fez fez, qual o motivo?

Eu sei, são muitas perguntas. Sejamos sinceros: o Guarani nunca mostrou firmeza institucional no combate contra a Covid. Protocolo é bom, mas fica quase nulo quando você pensa encher o estádio no ínicio de uma pandemia e fica inerte diante do adversário com vários jogadores contaminados. O torcedor bugrino merece satisfação e uma resposta.

(Elias Aredes Junior)