Marco Benatti, um pontepretano que deixa saudade

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Invariavelmente, a conversa acontecia todos os dias no início da tarde e transcorria assim:

– Me fale ae quem a Macaquinha contratou de técnico?

– Nenhuma novidade. Só temos alguns nomes- respondia.

Ávido por fechar e dar o furo na concorrência, o editor chefe do outro lado da linha pediu a relação dos nomes e eu prontamente respondia. O fechamento do bate papo era sempre seguido de uma gargalhada bem humorada e a avaliação ácida:

– Horrivel. Tudo meia colher. Assim a Ponte Preta não vai…

Por meses e meses de 2009 este foi o diálogo que eu, na condição de repórter de Esportes do Jornal Tododia em Campinas tinha com o jornalista Marco Benatti. Doente e apaixonado pela Ponte Preta, esta figura tinha o jornalismo como energia para viver e influenciar.

Adorava futebol e a Ponte Preta mas era rigoroso no produto jornalístico apurado a partir da paixão popular. Não aceitava bajulação aos poderosos, noticiário sem viés critico e independente e atenção às necessidades do torcedor.

Implicitamente, suas ações defendiam um jornalismo esportivo cidadão, focado na construção de clubes mais saudáveis e livres da corrupção e do clientelismo.

Em nossas conversas, sempre me encaminhava dicas de como apurar a evolução da dívida da Ponte Preta com o presidente de honra, Sérgio Carnielli e os desmandos políticos e administrativos no Guarani. Era um apaixonado por futebol como ele deve ser: focado no povão, nas classes mais baixas e sem frescura da onda gourmet atual.

Queria um esporte limpo, transparente e dotado de gente decente. Sua paixão era tal que por vezes, mesmo sem a obrigação de fechar e editar as matérias dos clubes de Campinas, acompanhava e por vezes ligava para o esforçado repórter para confirmar algumas informações, como a renda de 50 reais e cinco pagantes registrada no dia 27 de novembro de 2009 quando a sua Macaca foi goleada pelo Duque de Caxias por 4 a 1. “Não é possível”, “É mentira” e outras expressões de espanto foram emitidas por Benatti. Sim, lógico, a gargalhada não podia faltar.

Após sair do jornal Tododia e da convivência diária, Benatti continuou acompanhar a sua Macacaquinha e meu trabalho jornalístico. Ligava, corrigia dados, mas não deixava de incentivar e de incutir otimismo de que teria um futuro positivo.

Encontrei Benatti pela última vez no ano passado em um estacionamento próximo do Estádio Moisés Lucarelli. O mesmo humor, sacadas inteligentes e inteligencia continuavam presentes.

Tudo isso interrompido de maneira estúpida no feriado de quinta-feira em um acidente de moto. Marco Benatti não está mais entre nós. Deixa uma lacuna na arquibancada do Majestoso e nos corações de amigos, parentes e admiradores.

A Macaca perdeu um torcedor genuíno e apaixonado. O jornalismo campineiro não terá mais a presença de um gigante. Vá em paz meu amigo.

(artigo escrito por Elias Aredes Junior)