Não é fácil ser técnico do Guarani. Diria que é uma missão próxima do impossível. A história comprova. Gainete foi vice-campeão brasileiro, perdeu uma final diante do São Paulo nos segundos finais da prorrogação e nunca caiu no gosto do torcedor. Em 2008, Luciano Dias ficou com a medalha de prata na Série C do Brasileiro e viveu as turras com as arquibancadas. Tarcisio Pugliese nem se fala. Foi vitima de um massacre poucas vezes presenciado no futebol brasileiro, drama vivido por Osmar Loss.
Por que esses treinadores são colocados na vala da mediocridade pelos torcedores enquanto que Carlos Alberto Silva poucas vezes é relembrado pelo rebaixamento de 2001? E qual motivo para Vadão ser praticamente em entidade no Brinco de Ouro? A explicação está em um conceito simples: Vadão e Carlos Alberto Silva, nem nos piores momentos jamais deturparam o DNA do clube na visão do torcedor.
Alguns times podem atuar com segurança, excesso de volantes e jamais serão cobrados. No Guarani é diferente. A torcida quer e exige times competitivos e que atuem voltados na busca do gol.
Uma característica arquitetada por três times históricos: a formação campeã de 1978, o time comandado por Jorge Mendonça e Careca no Brasileirão de 1982 e o primeiro time formado por Beto Zini e vice-campeão paulista de 1988. Nestas ocasiões, a equipe envolvia o oponente, tocava a bola e contava com atletas com alto poder de criação. Se não puder contar com um time de craques, que seja pelo menos ousado e destemido.
Exemplos práticos: em 2009, Vadão montou um elenco com jogadores no mínimo, discutíveis como Adriano Gabiru, Ney Paraíba, entre outros. Ricardo Xavier, Walter Minhoca, Caíque, Leo Mineiro tratavam de sempre colocar o time á frente, na busca do gol. Foi assim que ganhou dois derbis, empatou heroicamente com o Ceará e subiu. Três anos depois, Vadão também montou o time ofensivo, apesar das dificuldades financeiros. Tanto que mesmo perdendo de 4 a 2 na final do Paulistão para o Santos, a equipe foi aplaudida tanto por bugrinos como santistas.
Chegamos a Osmar Loss. Perceba que quando venceu o Corinthians as criticas não existiam. Eram isoladas. Aliás, muitos torcedores utilizaram as redes sociais para exaltar o fato que o Guarani venceu um gigante. Esqueceu? Vá até as redes sociais e relembre.
Um fato destruiu todo o capital acumulado por Loss: os 15 minutos finais contra o Avenida (RS) e que geraram o gol gaúcho e a automática desclassificação. Neste tempo, Loss colocou o time atrás, em uma clássica retranca, sem sair para o jogo. Foi castigado com a saída prematura da Copa do Brasil. Depois, a ânsia de defender contra o São Paulo também não foi engolida. Vitória com gosto de cabo de guarda chuva.
O torcedor do Guarani sabe que o elenco é limitado. Só que não aceita um time covarde, retraído, defensivo e que viva de contra-ataques. Quer ver o time com iniciativa, criativo e que de preferência encurrale o oponente. Osmar Loss não quer. Quer primeiro arrumar o sistema defensivo, marcar na zona intermediária, tomar a bola e utilizar os lados do campo como válvula de escape.
Ninguém aceita. O torcedor bugrino considera-se enganado. Comporta-se como um freguês de restaurante indignado por sempre pedir filé mignon ou alcatra e o garçom aparece com bife de fígado. Pois é. Haja lábia para convencer o freguês de que o prato é nutritivo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)