Ponte Preta na Série C: uma derrota e tudo vira tragédia. Dá para entender?

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Temos uma nova maneira de consumir futebol. Até o início deste século, todo torcedor que se preze, assistia aos 90 minutos da partida ou ficava com o rádio colado no ouvido. Isso acabou. Viramos uma máquina de consumo em que tudo é buscado de modo instantâneo e incessante. Teclamos no twitter, escrevemos em tempo real no Facebook e em casos mais graves fazemos vídeos opinativos no Instagram e no Tik Tok. Ou de maneira mais singela espalhamos áudios pelo Whatsapp. Como este singelo comentarista esportivo faz em determinadas ocasiões.

Mas é pouco. Insuficiente. Pensamos de maneira rápida, artificial. Promovemos um tribunal para decidir se o treinador deve ser demitido ou se o jogador merece ter o seu contrato renovado. É aqui, agora, sem cessar.

Neste frenesi esquecemos do essencial: assistir ao jogo.

Entender os seus detalhes.

Refletir as razões que levaram ao resultado.

A Ponte Preta é líder da Série C. Fez um campeonato paulista de boa qualidade e só não foi para as quartas de final porque caiu em um grupo com duas equipes de pontuação superior, o São Bernardo e o Palmeiras. Pouco importa. Não interessa. A derrota para o Brusque por 4 a 1, em pleno estádio Moisés Lucarelli detonou um tribunal de exceção virtual, em que não há chance de absolvição. Todos são condenados.

Eu tive o desprazer de ler alguns posts que beiravam ao delírio. Teve torcedor da Ponte Preta com desejo de demitir Alberto Valentim. Outros culparam Dudu. Outros crucificaram Jonas Toró. Lógico, sobrou para o presidente Marco Antonio Eberlin. Como sempre.

Quem assistiu ao jogo deve relembrar todo o contexto. Em primeiro lugar, a postura do Brusque, que atacou desde o começo e a resposta pontepretana, em que Elvis tinha boa movimentação e desenvoltura. A Ponte Preta estava longe de uma atuação desastrosa.

Até que veio o lance do pênalti no final do primeiro tempo. A desvantagem no intervalo gerou uma mudança de postura na etapa final. E aos seis minutos veio a expulsão de Dudu. Mesmo com 10 jogadores, a Macaca tentou tomar a iniciativa. Correu riscos.

E o que recebeu como prêmio? Contra-ataques que originaram os outros três gols. É um resultado dolorido? Concordo. Mas isso não justifica a pressa de condenar e arrebentar com tudo e todos. Deveria servir de reflexão.

Dou um exemplo prático. Elvis tem novo posicionamento com o técnico Alberto Valentim. Fica mais próximo da grande area para dar o passe final ao atacante. Solução engenhosa. Fortalece o setor de criação e ainda poupa fisicamente o principal jogador. Sim, porque quando a Macaca perde a bola, Elvis não retorna ao meio-campo e sim, no papel de segundo ou terceiro atacante. Corre menos. Desgaste menor.

Mas a partida contra o Brusque acendeu o sinal de alerta. No segundo tempo, a malha de marcação do time catarinense era tão forte que Elvis retornava nas proximidades do circulo central e ali tentava iniciar a jogada. Existe: com isso, aumenta-se o percurso para Elvis e o desgaste físico é aumentado. Isso aconteceu em jogo de fase classificatória. E se for no quadrangular decisivo? O que fazer? Essa é a resposta que precisa ser buscada pela Comissão Técnica.

Aviso: não estou com o pano no braço pronto para salvar o time. Nada disso. Perder de 4 a 1 em casa é dolorido, não é de bom tom e Jonas Toró e Dudu merecem ser repreendidos. E o técnico Alberto Valentim precisa rever o jogo quatro, cinco vezes para detectar as ciladas e buscar os antídotos antes das fases decisivas.

O que não é aceitável é normalizar clima de terror. Aplaudir condenação sumária de uma equipe que é líder da competição e tem bom saldo. Ou algum torcedor pontepretano acha que a Macaca iria vencer os 27 jogos da Série C? Derrotas estão no cardápio e precisam de análise serena. Sem pressa. Análise com prudência, correção e sabedoria. Isso diferencia os bons trabalhos daqueles que vão morrer na praia. Por enquanto, a Ponte Preta não dá sinais de que é um Titanic. Diante disso, reforço: sem pressa. Tudo no seu devido tempo.

(Artigo escrito por Elias Aredes Junior-foto de Júlio César Costa-Especial para Pontepress)