Não existe nada garantido. Sequer a classificação às quartas de final. Serão mais 12 jogos e a necessidade de somar mais 16 a 18 pontos. Independente das tarefas colocadas, algo já é transparente: Marcelo Chamusca conquistou o coração do torcedor do Guarani. Não só por seus resultados mas por atitudes que se contrapõe aos outros ocupantes que já passaram pelo banco de reservas.
Conhecimento tático e cuidado para armar suas equipes é uma preocupação do treinador, que não tem a arrogância e a prepotência de outros profissionais. Chamusca não tem um discurso pernóstico, enfadonho e com desejo de mostrar conhecimento. Faz explicações simples, certeiras, sem rodeios e que qualquer torcedor entende. O engenheiro ou o taxista. O boleiro ou o desligado do futebol. Ele não duvida da inteligência do interlocutor.
Após os jogos, sendo o resultado bom ou ruim, o atual treinador do Guarani não disfarça ou doura a pilula. Não tenta enganar ou transmitir um discurso fora da realidade. Enaltece virtudes, aponta defeitos, faz mea-culpa e não tem pudor em prometer de que vai melhorar para os próximos jogos.
Querem um exemplo? Pegue a declaração feita após o empate sem gols diante da Portuguesa: “Infelizmente foi um jogo de muita transpiração, gostei muito do espírito da equipe e a Portuguesa também brigou muito no jogo. Era um jogo de segunda bola, de ligação direta, foram poucas bolas trabalhadas, de pouca inspiração par ao jogo que tecnicamente não foi legal, foi abaixo do que estamos produzindo ,isso em termos de qualidade de jogo, de performance técnica, mas em termos de espírito e de transpiração fiquei satisfeito com a entrega do grupo”, disse. Pense, reflita: existe alguma fantasia ou tentativa de enganar? Nada.
As dificuldades financeiras do Guarani, a transição na sua infra-estrutura não produzem um rosário de reclamações. Marcelo Chamusca contenta-se com aquilo que tem em mãos e enfatiza que aposta e valoriza quem está ao seu lado na empreitada. Nada melhor do que uma declaração para comprovar a tese: “Não sinto, acho que a ausência de um camisa 9 de referência não fez diferença no resultado do jogo nem na performance. Quando coloquei o Everton era para a gente ganhar um pouco de força para pressionar e ainda assim o Everton conseguiu achar uma única oportunidade em que finalizou e a bola resvalou no adversário”, disse após o jogo contra a Portuguesa. Com tal postura, ele não conquista o elenco. Transmite as arquibancadas a impressão que está preparado para o que der e vier.
Independente dos motivos citados, existe um fator presente no treinador capaz de angariar simpatia. Sua postura, comportamento, discurso e atitudes por vezes transforma Chamusca em um ser parecido com qualquer um. É um sujeito estudioso, minucioso, mas que pela postura e comportamento poderia muito bem estar na arquibancada de qualquer estádio ou clube. Não consigo imaginar Chamusca com terno e gravata e sentado em uma cadeira para conceder uma nova entrevista coletiva tediosa e cheia de termos indecifráveis.
Os ingredientes são suficientes para garantir o acesso? Nada disso. Existe possibilidade de fracasso? Total. No entanto, a curta estadia de Chamusca nos fez chamar atenção para algo esquecido no canto da gaveta: futebol é feito de calor humano.
(análise feita por Elias Aredes Junior)