Uma análise sobre o papel do Jornalista esportivo em Campinas nos últimos 50 anos

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Fomentar o debate de temas relevantes e oferecer protagonismo ao torcedor são metas deliberadas desde que resolvi promover lives temáticas aos pontepretanos e bugrinos na página do Só Dérbi. Premissas também presentes nas entrevistas semanais realizadas e o “Domingo Bola”, transmitido no final de semana.

Fatos de bastidores, eleições, denúncias, o desempenho no gramado e as perspectivas não são ignoradas.  Só que vira e mexe surgem criticas veementes dos internautas dirigidos a imprensa local.

Sou atingido. Afinal, faço parte de uma emissora, a Rádio Brasil, que me concede liberdade. Só que está na hora de debatermos o assunto. Abertamente. Aviso: não há intenção de criticar ou depreciar A, B ou C.

Quero transmitir o conceito que sem o papel pleno da imprensa não há como vigiar o funcionamento das instituições, no caso Ponte Preta e Guarani. E não existe data melhor para fazer esta reflexão do que no dia 07 de abril, o Dia do Jornalista.

Ao ler as criticas detectei três pilares que levaram a crônica esportiva campineira ao patamar de desconfiança reinante junto ao público.

O pilar inicial é a prisão ao passado. Nós, cronistas esportivos,  estamos presos aos fatos e conquistas do futebol campineiro. As décadas de 1970, 1980 e 1990 não saem da retina e da nossa memória.

Uma geração de dirigentes competentes e de jogadores brilhantes galgaram aos clubes campineiros a gloria.

Percebam: sem que  jornalistas perdessem  o tom critico e incisivo. Sérgio Salvucci, Zaiman de Brito Franco , Salvador Lombardi, Brasil de Oliveira, Carlos Gonçalves, Jorge Ferreira dos Santos foram profissionais com capacidade de adotar a criticidade na época de bonança.

Só que se existiu um erro (involuntário) de alguns desta geração passada: deixar de avisar que a vitória não seria eterna. Que as criticas teriam que ser incisivas contra dirigentes e jogadores na hora da dificuldade. Quando a boa fase prevalece, é natural do ser humano vislumbrar um tom róseo.

A imprensa esportiva campineira caiu na armadilha. Em nome de nunca “machucar o torcedor”, deixamos prevalecer a análise otimista mesmo quando o rebaixamento batia a porta.

Pergunto: adiantou? Resolveu? O enfoque “pra frentex” evitou a deterioração nos clubes, bloqueou o sucateamento nas suas estruturas? Pense, reflita e tire suas conclusões.

A fase dourada do futebol campineiro, a construção de heróis de carne e osso a mitificação de homens com a bola no pé gerou outro efeito colateral: pensamos que temos protagonismo semelhante aos protagonistas do espetáculo.

Não temos.

O virus atingiu a todos, sem exceção: jornalistas de veículos impressos, narradores, comentaristas, repórteres, âncoras, plantões esportivos e toda e qualquer função que produzisse uma mínima projeção.

Fomos engolidos pela  nossa vaidade. Escrevo isso e me olho no espelho. Caí na armadilha. Somos, antes de tudo, operários da noticia. Desempenhamos o elo entre o torcedor e as estruturas de poder.

Tal pecado produziu outro defeito: a desconexão da categoria.

Não há sentido coletivo.

Não há troca de ideias entre a nova e a velha geração. Em parte por desconfiança, em outras simplesmente por medo de perda de espaço. Ninguém toma espaço de ninguém. A troca de ideias é que fomenta o crescimento em quantidade e qualidade. Perdemos todos os dias uma chance de ouro de oferecer um produto melhor ao torcedor.

Temos dificuldade de entender que o jornalismo esportivo deve ser exercido com os conceitos das outras editorias: criticidade, independência, cobrança e fiscalização. Vale para Cidades, Economia, Cultura, Polícia. Por que não valeria para o Esporte?

Os poderosos de Ponte Preta e Guarani nos querem de joelhos. Mesmo que isso custe a destruição destas paixões centenárias. O silêncio ou a piada inconsequente não resolve.

Sem um tom critico e a diminuição do enfoque no entretenimento, as criticas contra a nossa atuação crescerão. Cada vez mais. Eu lamentarei. Muito. Porque poderia ser diferente.

(Elias Aredes Junior)