Uma reflexão sobre Fábio Moreno, erros, acertos e a constatação: o futebol campineiro precisa sair do Jardim da Infância

0
1.123 views

Nunca vi Fábio Moreno pessoalmente. Que eu lembre consegui trocar duas ou três mensagens foi muito. Não mudei minha convicção sobre o seu potencial. Tem tudo para virar um treinador de excelência. Moderno, com estratégias e metodologias antenadas.

Ao contrário de alguns integrantes e militantes da velha guarda do futebol- e que estão espalhados no Brasil inteiro, é um sujeito que valoriza o conhecimento acadêmico. A ciência. Homenageia aqueles que se debruçaram por anos e anos na história do futebol e de seus movimentos e buscam saídas e alternativas. Sem empirismo. Com método.

Foi criado no mundo da bola e tem o seu pai, Roberto Moreno como referência. Mas ele sabe que o mundo e a vida foram alteradas. Fábio Moreno introduziu a gentileza no futebol, a capacidade de introduzir conceitos novos, mas com a humildade de dizer “não sei”, quando for necessário. Não tem síndrome de “Paulinho Majestase”, o personagem do genial filme “Boleiros”, em uma passagem que se retrata a ânsia de um ex-jogador ávido em aparecer e que não tem nada a oferecer, a não ser ideias ocas, vazias e ultrapassadas. E temperadas de arrogância. Fábio Moreno já fugiu deste estereótipo. Ótimo.

Um aviso: Fábio Moreno vai errar. Muito. Escalações ruins, escolhas equivocadas de atletas, atletas substituídos em hora errada…essas e outras pisada de bola já foram cometidos por Moreno. E vão continuar. Ele é humano. Não é robô. Como eu, você, qualquer outro.

Tal cenário não deveria servir de modelo para uma fritura imediata. “Ah, mas apareceu a nova regra da Série B”. E daí? Isso deve fazer convicções serem destruídas?

Futebol é algo sério? Sim. Só que antes de qualquer fato é processo. Erros e acertos são construídos dia após dia. Jamais deve-se colocar uma guilhotina no pescoço do treinador. Achar que tudo será resolvido em um passe de mágica é apostar na loteria.

Nelsinho Baptista, Cilinho, Zé Duarte, Telê Santana, Rubens Minelli…Todos eles um dia já foram jovens. Erraram e cometeram equívocos. E em nome de infalibilidade lendária do passado constroem-se mitos para no fundo destruir algo precioso: a evolução do futebol por intermédio da ciência, da colaboração acadêmica e com a parceria de ex-jogadores que queiram entender que suas colaborações são preciosas, desde que acompanhadas do estudo, da reflexão e especialmente da sabedoria.

Fábio Moreno dar certo na Ponte Preta não é algo capaz de produzir benefícios apenas a Ponte Preta e sua torcida. É sacramentar que projetos vencedores são feitos de erros e acertos e jamais de uma postura de desumanização do trabalho do treinador. “Ah, perdeu três pega o treinador  e demite”. Traduzindo: joga-se fora.

Você pode chegar ao final deste artigo e pensar: “Ah, mas e se chegar ao final do ano e a Ponte Preta não alcançar o acesso? Aí não tem jeito. Tem que mandar embora”.

Nada disso. O trabalho, desde que seja consistente, precisa continuar. Por que quem pensa na validade desta ciranda do futebol, desculpe, apenas colabora para degradação e o bloqueio de evolução. Ajuda involutariamente na proliferação de comportamento infantil inserido no futebol.

Os torcedores são tratados crianças que fazem birra e que querem ver os seus desejos atendidos. E os dirigentes, como pais imaturos e sem pulso, atendem os caprichos dos “meninos”, que podem ser torcedores, homens da bola, cronistas esportivos.

Dar sustentação ao trabalho de Fábio Moreno não será sinal de teimosia e sim de amadurecimento. O futebol campineiro e brasileiro precisa sair do Jardim da Infância. E colocar no armário a arrogância, a prepotência e escalar a humildade como camisa 10.

(Elias Aredes Junior (Alvaro Junior-Pontepress)