Umberto Louzer e o triunfo da humildade sobre a arrogância no Guarani

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No futebol, os vencedores são construídos nos pequenos detalhes. É o camisa 10 focado em desdobrar-se na marcação. O centroavante obcecado pelo jogo coletivo. O inconformismo geral pela derrota. Ou o sentido de solidariedade em relação a quem está no comando do banco de reservas.

O Guarani conseguiu reunir todos esses predicados com Umberto Louzer. O esporte é cheio de surpresas e armadilhas e a classificação encaminhada de hoje pode ser a eliminação amarga de amanhã. Mas é inegável constatar que o o treinador tem o grupo na mão. Seus atletas fazem o possível e o impossível para obedecerem suas instruções. O que aconteceu? Que mágica foi operada para que a equipe, sem confiança na reta final da Série B de 2017, se transformasse em um dos favoritos para o acesso no Paulistão? Como entender tal metamorfose?

São dois tópicos para explicar o fenômeno. Um treinador já me confidenciou que o início de carreira de profissionais que estão há muito tempo no clube ganha incentivo e ajuda dos funcionários de menor graduação até dos craques intocáveis. Por que? Ele é da casa, conhece o time, tem percepção daquilo que é prioritário para qualquer um que cruza o seu caminho no dia a dia. E Umberto Louzer, pelas informações que tenho, reúne tais predicados. Todos no clube gostam dele. Torcem por ele. Não há sabotagem. Todos trabalham não só pelo bem do Guarani, mas para que o cara bacana, humilde e gente boa triunfe na carreira.

Este é o outro segredo. Umberto percebeu o sinal dos ventos. Acabou a era dos treinadores truculentos, prontos para xingar no primeiro erro do atleta ou que utilizam palavrões para chamar os brios dos atletas. Ou assédio moral disfarçado. Aquele treinador intocável, que trata o atleta como alguém sem personalidade e dotado até de limitação intelectual está com os dias contados.

Pelos jogos percebe-se que Umberto percebeu a conjuntura do futebol atual: o treinador que detecte a necessidade de liderança e que convença pelo exemplo e conhecimento e nunca pela força.

Querem um exemplo? Fumagalli está nos minutos finais da carreira. Já lidou com diversos profissionais. Como explicar sua imersão no trabalho da atual comissão técnica? Fácil. Ele foi convencido da capacidade do treinador bugrino. Não com gritos, e sim conhecimento.

Há defeitos a serem corrigidos? Evidente que sim. Seu sistema defensivo padece de solidez, especialmente no entrosamento dos laterais, zagueiros e volantes no instante para definir quem fica na sobra e quem vai para a marcação. Perceba: os gols que o Guarani sofre tem tal pano de fundo.

Mas existe perspectiva de melhoria. Em primeiro lugar, porque Umberto Louzer é inteligente para admitir o problema e lugar para corrigi-lo. E os jogadores desejam auxiliá-lo na missão.

Repito: pode dar tudo errado. O Guarani ficar fora da zona de classificação ao final da 15ª rodada e ainda lamentar por mais um ano na Série A-2. Só que dá para cravar com segurança que nunca o Guarani teve um treinador novato com tanta vontade de dar certo e que tenha a colaboração de quem está ao redor. Pode acreditar: não é pouco.

(análise feita por Elias Aredes Junior)