A maioria da torcida da Ponte Preta dá demonstrações de compaixão nas últimas horas. Antes de a bola rolar contra o Fluminense, no dia 09 de agosto, milhares e milhares de pessoas combinam homenagens, estratégias e homenagens ao técnico Abel Braga, abalado pela perda do caçula.. Sinal de que existe empatia ao sofrimento humano. Assim como aconteceu no desastre aéreo que vitimou o time da Chapecoense em novembro do ano passado.
Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra. Discordo. Deveriam ocorrer lampejos de inteligência. Ao verificarmos os pontepretanos ( e não são poucos) contrárias ao adiamento do jogo do último domingo, temos a reação imediata de perguntar como podemos deixar a empatia pelo semelhante escapar pelas nossas almas.
Digamos que o jogo fosse realizado. Que o Fluminense entrasse em campo com o elenco dilacerado emocionalmente pelo acontecimento com seu treinador e sem sua presença no banco de reservas. Uma comoção naturalmente estaria envolvida na partida e a carga emocional negativa seria enorme aos atletas do Fluminense.
Você que desejava a realização da partida de qualquer jeito, uma pergunta: se o futebol é um esporte que pressupõe proporcionar condições iguais aos concorrentes, será que seria salutar a Ponte Preta vencer uma partida contra um oponente arrebentado na parte psicológica? Teria um sabor palatável?
Vocês, ávidos pela partida, podem alegar que não realizar a partida é hipocrisia. Ok. Mas aproveitar-se de uma fragilidade emocional para vencer o outro é o que? Ou a CBF estava errada quando cancelou Chapecoense x Atlético Mineiro na última rodada? Ou foi equivocada quando remarcou a última rodada uma semana depois do acontecimento com a Chape? Não, não estava.
Com todo o respeito, estão equivocados todos aqueles que estipulam o esporte como algo na linha do “salvem-se quem puder”. Que acredita na validade da vitória a qualquer custo. Que aposta nunca em vencer e sim em trucidar e humilhar o ser humano. Ou que acredita na tese de uma escalação do game fantasy cartola vale mais que uma vida. Ou que a dor de um pai e de uma mãe.
Nesta sociedade doentia, pronta a espalhar o ódio, ressentimento, vingança e violência, seja ela física e verbal, deveríamos nos encontrar aliviados pela CBF entender a dor humana e utilizar a caneta para permitir gestos de solidariedade. De jogadores, imprensa, técnicos e de anônimos. Pode esquecer este gesto quando algo semelhante ocorrer contra times médios e pequenos? Pode. Neste caso, vai merecer críticas. Agora, não merece reservas e sim elogios. Simples assim.
Então, vocês torcedores pontepretanos, que insistem em trilhar a contra mão do amor mudem de rumo. Ainda há tempo para desarmar os espíritos e encarar o futebol como ele realmente é: um espaço para congraçamento e amizade. Apesar de tudo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)