Assim que começou o massacre nas redes sociais e de reportagens na imprensa a respeito de sua condenação na Itália por um estupro em uma Albanesa, Robinho foi rápido em aderir ao discurso Cristão Evangélico. Citações de versículos bíblicos e frases no Whatsapp que mostravam uma fé inabalável de que tudo terminaria bem.
Não cabe aqui julgar a orientação religiosa do jogador. Cabe analisar como o mundo do futebol utiliza a religião como instrumento de poder e manipulação. E de controle.
Existe uma realidade: os vestiários dos clubes brasileiros estão com predominância evangélica ou na pior das hipóteses, presença forte.. O que vira um caso interessante para ser analisado se levarmos em conta a ligação intrínseca do futebol com o catolicismo em nosso país. Clubes contam com capelas, espaços para missas e isso sempre foi tratado com naturalidade. Não é mais.
Cristãos Evangélicos de orientação histórica, pentecostal ou neo pentecostal prevalecem nos vestiários e até no banco de reservas. Um reflexo do que ocorre na sociedade. De acordo com o IBGE, temos 42 milhões de Evangélicos, o que equivale a 22,2% da população. Como comparação, basta dizer que a Argentina tem 45 milhões de habitantes.
Assim como no mundo evangélico brasileiro, não existe um comportamento homogêneo com os Cristãos Evangélicos no futebol. Pelo contrário. Existem Cristãos evangélicos discretos e que creem que seu testemunho de vida fala mais alto do que qualquer discurso intimidador. Cito dois. O ex-jogador Silas e o preparador físico Walter Grassmann. São pessoas que acrescentaram e enobrecem o futebol. Mais do que versículos bíblicos, eles acreditam de que Jesus Cristo se reflete neles em cada palavra, gesto ou atitude. Citam versículos? Sim. Mas para eles é a conduta que faz a diferença.
Existe outra vertente. Que tem um discurso por vezes agressivo, separatista e com todo o respeito, desagregador. Acreditam que perseguir ou cercar pessoas que não comungam de suas ideias é a solução. Não respeitam a diversidade religiosa no Brasil. Os pentecostais e neopentecostais são seus representantes. Quem conhece os bastidores do futebol de Campinas e especificamente da Ponte Preta sabe que alguns atletas que atuaram no clube nos últimos anos colocavam a fé religiosa a frente do exercício do ofício e davam trabalho danado para as comissões técnicas de plantão. Não descarto a hipótese de que isso tenha acontecido no Guarani.
Tal grupo tem uma característica: um corporativismo exacerbado. Defende os “seus” com unhas e dentes. Consideram muitas vezes que são vitimas de perseguição, que não podem sofrer criticas e que Deus vai exercer juízo sobre aqueles que apontam seus defeitos. É um talibã disfarçado.
Robinho agora fala para esse público. Quer angariar simpatizantes. Não quer ficar sozinho. E sabe que o nicho neopentecostal, em uma mistura de preservação, prepotência e arrogância, faz de tudo para apagar qualquer resquício que quebra o cristal da moralidade intacta.
E tal procedimento sempre será utilizado e usado. Se o mundo do futebol não se movimentar em pouco tempo esta vertente neo pentecostal poderá modificar o ambiente e provocará estragos na questão do diálogo, do ecumenismo e da diversidade que será quase impossível inverter no futuro.
(Texto de Elias Aredes Junior- Cristão Evangélico e frequentador de uma comunidade na Região Metropolitana de Campinas)