Quando inauguramos este Só Dérbi, em janeiro de 2016, a meta foi a de tratar todo e qualquer assunto relacionado ao futebol e aos seus bastidores. Até os espinhos. Um desafio colocado para qualquer profissional de imprensa com responsabilidade social e formação intelectual minimamente sólida.
Assim foi feito na cobertura da Covid-19. Fizemos entrevistas, matérias analíticas ou registros sobre como a doença afetava o futebol e Ponte Preta e Guarani. Especialmente na paralisação de 2020 de quatro meses e também neste período de 2021.
Com o retorno do futebol paulista o assunto aparentemente estava encerrado. Recebi até o conselho de um amigo de que deveria maneirar o assunto porque correria o risco de afastar a audiência.
Na hora concordei com ele. Achava natural tal decisão.
Até que chegou a manhã deste domingo e lembrei das infinitas vezes que vi minha esposa, enfermeira, chegar de um plantão de 12 horas de um hospital público.
Máscara no rosto.
Sofrimento e abatimento gerado pelas dificuldades para lidar com pessoas doentes pelo vírus. A dor da perda do paciente, a impotência diante do avanço da doenças. Se o problema não for com ela, são com suas companheiras de trabalho espalhadas pelos setores da unidade hospitalar.
Surgiu o estalo na mente. Não tenho o direito de ignorar o assunto nas minhas plataformas e locais de trabalho.
Ignorar seria, antes de tudo, um insulto a mulher que escolhi para viver ao lado. Não teria sentido.
Do que adiantaria ouvi-la, ser parceiro e compreensivo e na hora que vou exercer o meu ofício eu solenemente ignorar o tema que provoca tanta tensão nela? Incoerência seria meu nome e sobrenome
No fundo é disso que falamos. Consideração. Empatia. Respeito. Não só pelo público que consome os produtos do Só Dérbi, mas pela minha principal incentivadora. Que incentivo é esse que tem apenas uma mão? Não existe.
Você pode alegar que se continuar a abordar a relação da Covid-19 com o futebol poderá diminuir audiência.
Paciência. Eu, como jornalista, tenho a missão de reportar e cobrir aquilo que as pessoas precisam ouvir e não aquilo que elas querem ouvir.
Enquanto o Brasil for assolado por esse espiral de mortes, destruição de famílias e cuja as consequências forem sentidas no futebol, a abordagem continuará neste espaço. Não quero ser cúmplice, mesmo que indiretamente, de um estado de alienação e ignorância. Consciência limpa fala muito mais alto que dinheiro.
(Elias Aredes Junior)